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Indústria do fumo apela à Casa Civil

Passando por cima da Anvisa, lobby pede a Gleisi Hoffman uma câmara técnica para debater o impedimento de aditivos ao cigarro

Por Ligia Formenti e BRASÍLIA
Atualização:

A indústria do tabaco reforçou nesta semana o lobby para tentar barrar a aprovação da proibição do uso de aditivos nos cigarros, como menta e cravo. A cinco dias da votação do texto da resolução, em discussão na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) desde 2011, sindicatos de produtores lançaram um manifesto sugerindo a criação de uma câmara técnica para aprofundar a análise do assunto. A pressão extrapola a Anvisa, onde o assunto deverá ser decidido na terça-feira. Afirmando que produtores estariam sob risco se a restrição fosse aprovada, representantes da indústria apelaram à ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann. Em carta, disseram não haver evidências científicas de que o uso de aditivos aumente o risco à saúde observam que nenhum país adotou medida tão rigorosa. Grupos antitabagistas e associações médicas contra-atacaram: também em carta à ministra, contestam a afirmação de que a proibição poria em risco a subsistência de pequenos agricultores e reforçam a necessidade da proibição de aditivos - considerado por médicos como um artifício para atrair jovens. "Não temos objeção à proibição de produtos como morango ou chocolate. Mas não há razão para retirada do mentol, do cravo e do açúcar", afirmou o Carlos Galant, da Associação Brasileira de Fumo. Como argumento, o grupo citou um estudo que demonstraria que o risco de cigarros mentolados de causar câncer do pulmão seria menor que o de cigarros comuns. A Anvisa afirmou que não se manifestaria sobre documentos ou estudos divulgados pela entidade. Presidente da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva do Tabaco, Romeu Schneider afirmou ontem que a versão do texto da resolução a ser votada na próxima semana pela Anvisa é mais restritiva que a original. Se aprovada, disse, ela inviabilizaria a fabricação de 99% dos cigarros vendidos atualmente. A mudança teria sido provocada pela descrição de todos os produtos que não poderiam ser usados como aditivos: não apenas os que dão sabor ao cigarro, mas ingredientes que atuam na estabilidade e harmonia do paladar. A Anvisa informou que o texto em discussão proíbe aromatizantes, flavorizantes e ameliorantes, usados para reduzir a irritação da fumaça. Nada que não estivesse na primeira proposta. A versão em discussão pela Anvisa prevê a proibição de aditivos, com uma exceção: o açúcar. Pela proposta em análise, seu uso seria analisado em até um ano, após especialistas serem ouvidos. Agricultores dizem que a adição do produto é indispensável no caso do fumo Burley, que perde o açúcar existente na folha durante o processo de secagem. A exceção não havia sido prevista na primeira versão, colocada em consulta pública no ano passado. A mudança foi feita justamente para tentar reduzir a polêmica. Em fevereiro, a proposta foi discutida em reunião pública da diretoria da Anvisa. Mas não houve acordo. O assunto deverá ser decidido na próxima terça, durante nova reunião de diretores.

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