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Israel não deve atacar o Irã, acreditam analistas israelenses

Graves conseqüências de um ataque desencorajariam ação contra regime iraniano.

Por Guila Flint
Atualização:

Apesar do agravamento da tensão entre Israel e o Irã na última semana, após o governo iraniano ter realizado testes com mísseis de longo alcance, analistas israelenses vêem como pouco provável a possibilidade de um ataque de Israel ao Irã. Embora os dois lados tenham feito declarações hostis e demonstrações de força, analistas dizem que as conseqüências de um ataque poderiam ser tão graves que servem para dissuadir os israelenses de bombardear o Irã e de tentar derrubar o regime daquele país. Para o conceituado jornalista e líder pacifista Uri Avnery, de 84 anos, uma eventual guerra entre os dois países poderia gerar, entre outros efeitos, uma disparada dos preços do petróleo e uma crise econômica global. Além disso, um eventual ataque seria inócuo do ponto de vista militar, na avaliação de Reuven Pedatzur, professor de Estudos Estratégicos da Universidade de Tel Aviv. "Israel não deve bombardear o Irã. Esse seria um erro grave", disse ele à BBC Brasil. "Israel não conseguiria destruir o programa nuclear iraniano, que, em conseqüência de um ataque israelense apenas sofreria alguns meses de atraso", afirmou o analista militar. Para Yoram Kaniuk, um dos mais famosos escritores israelenses, as ameaças, tanto do lado de Israel quanto do lado iraniano, fazem parte de uma guerra psicológica e não de uma guerra real. Na avaliação de Kaniuk, o verdadeiro objetivo do Irã é controlar os países árabes, e as ameaças contra Israel servem para conquistar a simpatia do público desses países. "Eles (o público nos países árabes) gostam das ameaças que (o presidente iraniano) Mahmoud Ahmadinejad faz contra Israel", afirma Kaniuk em artigo publicado no Ynet, um dos maiores sites de noticias do país. Destaque A mídia israelense tem dado amplo destaque ao fortalecimento militar iraniano, principalmente à existência de mísseis de longo alcance que podem atingir qualquer lugar em Israel. Durante a segunda guerra do Líbano, em 2006, quando o norte de Israel ficou paralisado por mais de um mês e foi bombardeado por milhares de foguetes lançados pelo grupo islâmico Hezbollah, os israelenses sentiram na pele o significado de uma ameaça à retaguarda e também sabem que os mísseis iranianos são muito mais potentes do que os foguetes usados pelo grupo xiita libanês. Nessas circunstâncias, acredita-se que a maioria dos israelenses daria preferência a uma solução diplomática para a questão, em vez de uma aventura militar que poderia terminar em uma catástrofe. Segundo uma pesquisa realizada pela BBC em março deste ano, apenas 34% dos israelenses apoiariam uma ação militar contra o Irã. O ministro da Defesa de Israel, Ehud Barak, afirmou que "Israel é o país mais forte da região e já provou no passado que não tem medo de entrar em ação quando seus interesses vitais na área da segurança encontram-se em jogo". Mapa Mas a ameaça de Israel é colocada em dúvida pelo jornalista Uri Avnery. "Quem quiser adivinhar se Israel ou os EUA atacarão o Irã, deve examinar o mapa do Estreito de Hormuz, de apenas 34 km de largura, por onde passam os navios petroleiros que carregam entre um terço e um quinto de todo o petróleo do mundo, do Irã, Iraque, Arábia Saudita, Kuwait, Catar e Barein", disse ele em um artigo publicado na última semana. "O Irã controla toda a extensão do Estreito, e pode bloqueá-lo hermeticamente com mísseis e artilharia. Se isso acontecer, o preço do petróleo disparará, para muito além dos temidos US$ 200 por barril", observou. "Daí em diante haverá uma reação em cadeia, uma depressão mundial, o colapso de todas as indústrias e a explosão catastrófica do desemprego nos Estados Unidos, Europa e Japão", conclui Avnery. Para o analista militar Reuven Pedatzur, "Israel não tem os meios militares necessários para liquidar o programa nuclear iraniano. Só os Estados Unidos podem fazê-lo, pois possuem um número muito maior de aviões de guerra e bases militares próximas onde podem abastecer seus aviões", acrescentou. "Para liquidar o projeto nuclear iraniano seria necessário um bombardeio aéreo de várias semanas, pois os iranianos dispersaram suas centrífugas em muitos locais diferentes", explicou. "Em muitos casos, os alvos são subterrâneos, muito profundos, e é praticamente impossível destruí-los por bombardeio aéreo", disse Pedatzur. O professor acrescentou que Israel não tem as informações necessárias para ser bem sucedido em um ataque ao Irã. "Não sabemos o que exatamente eles têm, talvez haja locais que desconhecemos", disse. Pedatzur também afirma que os iranianos prepararam a defesa de suas instalações nucleares, principalmente com armas antiaéreas, que dificultariam qualquer ataque. "Se Israel bombardear o Irã, não conseguirá alcançar seus objetivos e também poderá sofrer uma séria represália, pois os iranianos têm mísseis que podem atingir as grandes cidades israelenses e causar um sério estrago", concluiu o analista militar. No entanto, Pedatzur, diferentemente da maioria dos analistas, não tem certeza de que Israel não irá bombardear o Irã. "Não recomendo, mas não tenho certeza de que isso não vai acontecer", disse. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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