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Ivan Lessa: Subsídios jubilosos

No ano do diamante, governo britânico despeja um orçamento-bomba sobre os aposentados.

Por Ivan Lessa
Atualização:

Na Grã-Bretanha, o jubileu que comemora os 60 anos da ascensão ao trono da Rainha Elizabeth continua jubilando. A ilha parece coberta por uma vasta bandeira britânica que deixa inclusive o sol primaveril permeá-la e queimar, sem ferir, os rostos de seus habitantes, aqui nascidos ou para cá migrados. Há boas e más notícias, uma vez que jubileu, mesmo de pedra preciosa, enche os peitos dos patriotas de brio e uma fumacinha de cigarro, agora um pouco mais caro devido as medidas para o próximo ano fiscal anunciadas na quarta-feira passada. Como todo "budget", que é como eles chamam o orçamento fiscal anual, o governo defende, a oposição ataca e a grande maioria do público procura entender onde levou na cabeça, ou bolso, e uma pequena minoria confere as contas e, jubilosa em homenagem ao ano, busca uma boa dica para onde e em que investir os presentaços que, meio na moita, o governo conservador lhes concedeu. Em diamantes, para rimar com a ocasião. 4 milhões de anciãos ficaram a ver navios - navios com muita gente abandonando a ilha e mandando uma boa banana para os que nela preferiram ficar. No setor de boas notícias, para ser franco, não há muita novidade. Aquelas histórias de sempre. A aspirina, comprovou-se mais uma vez, continua curando ou sendo benfazeja (taí uma palavra carregada de júbilo) para quase tudo: câncer, cistite, osteoporose e outras 36 aflições que nos perseguem. A cura para a calvície é agora uma questão de tempo, tempo ralo. Cientistas descobriram sua causa, que não se limita à queda de cabelos, mas o porquê da pilosidade (outro termo cabeludo de júbilo), o que nos aproxima de fartas cabeleiras para todos e anuncia, com num "budget" aparte, sérias preocupações para a indústria peruqueira. E a acupuntura, que, como quase tudo com origem no Oriente, à exceção do sushi e e dos fogos de artifício, é sempre objeto de controvérsia. Fantasiados de súditos fiéis, com vestimentas incrustadas de pedras semi-preciosas, médicos e leigos se digladiam pela imprensa a respeito do tradicional tratamento. Há um "budget" justo para os dois lados. Aqueles que juram por tudo que é mais sagrado nos ensinamentos do Buda que as agulhinhas caindo de yin e yang, quando corretamente aplicadas nos 2.000 pontos estratégicos distribuídos pelos meridianos do corpo são, para empregar uma expressão das mais inadequadas, tiro e queda - quer dizer, funcionam, curam tudo, inclusive mais do que a aspirina, acabam com enxaquecas e fazem mesmo dos glabros pessoas de luxuriante e jubilosa cabeleira. Do outro lado do ringue, os céticos, que armados de livros e estudos, garantem que a chamada "ciência médica oriental" é só queda e nenhum tiro. Quer dizer, não funciona, isso é besteira, o mesmo que acreditar em Papai Noel. Foi nesse clima que, na quinta-feira, se comemorou o Dia Mundial da Água, uma das utilíssimas iniciativas da Organização das Nações Unidas, essa datada de 1993, com seminários, conferências e exposições sobre o popular "precioso líquido". Um verdadeiro chuá, se me permitem a leviandade. Aqui, como choveu pouquíssimo neste ano fiscal que se vai, e as reservas de água escasseiam, o que entrou em vigor mesmo foi a proibição do uso de mangueiras, seja para lavar carros ou regar jardins. Valem para apagar incêndios. Caso contrário, seu uso leva pena dura: forca e exposição dos restos mortais em praça pública. O que é uma jubilosa mentira minha. Os britânicos, nem mesmo os escoceses ou irlandeses do norte, gente braba, nunca fariam isso em ano de jubileu de diamante. Ano que vem? Veremos. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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