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JBS: preço em queda da carne e risco maior pedem dólar mais alto

Por ROBERTO SAMORA
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O dólar a 2,30 reais, bem mais valorizado frente ao 1,60 real de há alguns meses, não é suficiente para compensar a queda de preço da carne bovina no mercado internacional e os maiores riscos na exportação diante da crise financeira, disse nesta terça-feira o presidente do JBS, Joesley Mendonça Batista. Ao comentar as dificuldades de negociar novas exportações para a Rússia, principal mercado externo do JBS com quase 20 por cento das vendas da empresa, Batista afirmou que os riscos envolvidos não compensam operações para o exterior nos valores atuais. "Todo ano a Rússia engasga. Vamos ter que achar um ponto em comum, pois a grande dificuldade é que com a crise de liquidez não tem quem financie isso. Eu não quero dar prazo a ele, e ele não quer comprar à vista", disse Batista. "A grande discussão será como desatar esse nó", acrescentou a jornalistas o presidente da maior empresa global em abate de bovinos, com operações nos Estados Unidos, Argentina, Austrália e Itália, além do Brasil. Segundo Batista, em tempos de calmaria financeira, era compensador exportar com uma diferença de 1 a 2 por cento sobre o preço do mercado interno. "Hoje, se eu não tiver no mínimo 30 por cento, eu não exporto. Pois vou sangrar para ter capital de giro, depois eu vou morrer de preocupação de o cliente me pagar...", destacou, após conferência a analistas da Apimec. Endurecendo com o seu principal cliente, Batista chegou a afirmar que "só se a Rússia me pagar 5.000 dólares" a companhia continuaria exportando para o país. Em outubro, o preço médio da carne brasileira vendida aos russos foi de 4.194 dólares/t. O executivo diz que no cenário atual o real precisa se desvalorizar ainda mais para garantir exportações. "Com esse câmbio de 2,30, eu não consigo exportar, com esse câmbio e com o aumento dos riscos envolvidos, a exportação não vai andar bem, porque o preço em dólar está caindo." Por isso, o JBS quer que a Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) reivindique que o Banco Central pare de vender dólares ao mercado. "Quero que o câmbio volte a 2,80." EUA, RÚSSIA E BRASIL... Apesar das dificuldades nas negociações espelhadas na relação com a Rússia, Batista não prevê mudanças nos volumes exportados para seus principais clientes em 2009, embora admita mudança de preço ante 2008. "A perda da capacidade de compra é global. Você vai comer carne, o que vamos discutir é preço." As exportações da empresa para todos os destinos somaram 1,7 bilhão de dólares no terceiro trimestre de 2008, representando 36 por cento da receita bruta da companhia, que tem no mercado interno sua principal fonte de ganho. Em meio à crise global, o JBS confirmou que deverá inaugurar no primeiro trimestre de 2009 a unidade de produção de hambúrgueres da empresa na Rússia, com capacidade para 25 mil toneladas/ano, para abastecer o McDonald's naquele país. "Vamos entrar mais na Rússia, fizemos um contrato com o McDonald's, vamos fazer a operação direta, tira o importador e a trading do processo", declarou --parte da matéria-prima será importada. Batista reafirmou ainda que, para 2009, a crise abrirá espaço para novas aquisições do grupo no Mercosul, provavelmente no Brasil. Ele reiterou também que a empresa continua aguardando pela aprovação, pelo governo dos EUA, da compra do National Beef, negócio do qual não pretende se desfazer, apesar de o Departamento de Justiça norte-americano ter entrado com uma ação tentando bloquear a compra. . "Vamos brigar com eles", disse Batista. (Edição de Marcelo Teixeira)

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