Juíza suspeita de envolvimento com tráfico é promovida

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Por Tiago Décimo
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Suspeita de beneficiar o chefão colombiano Gustavo Durán Bautista, detido numa investigação por tráfico de drogas em Juazeiro em 2001, a juíza Olga Regina Guimarães foi empossada hoje titular da 47ª Vara de Substituições de Salvador, deixando, assim, a comarca de Cruz das Almas, a 145 quilômetros da capital baiana, que comandava. Gravações feitas pela Polícia Federal flagraram telefonemas trocados entre Bautista, a juíza e o marido dela, Balduíno Santana. Em um deles, gravado em 21 de setembro de 2006, Olga garantia ao traficante que não tinha nenhum registro de antecedentes criminais dele. "Eu ''''tive'''' até lá na Polícia Federal", diz a juíza ao traficante. "Os antecendentes, tudo ok". Bautista agradece e garante que vai cumprir sua parte no acordo. "Amanhã, eu vou colocar aquele negócio que o senhor Balduíno me falou". "Muito obrigada, boa sorte", responde a juíza. Em outra ligação, quatro dias depois, o marido de Olga cobra o traficante pelo não pagamento. "O negócio não chegou, não", avisa Santana. Gustavo tranqüiliza o interlocutor: "amanhã cedo está colocado". Uma semana depois, em outro telefonema, Bautista avisa que só conseguiu "colocar" R$ 14.800, porque está "meio apertado". Santana agradece. Em outra conversa gravada, Santana chega a sugerir que Bautista compre um hotel em Morro de São Paulo, no litoral baiano. O valor: US$ 500 mil. Além dos contatos telefônicos gravados, a Polícia Federal também apresenta como prova da ligação entre a juíza e o traficante o depoimento da filha mais velha de Bautista. De acordo com ela, a juíza visitou a família do traficante em uma casa no Morumbi, em São Paulo - e essa não teria sido a primeira vez que eles estiveram juntos. A história da relação entre a juíza e o traficante teria começado em 2001, quando a PF deteve diversos acusados de ligação com o tráfico internacional de drogas em Juazeiro, no extremo norte baiano. Um deles era Bautista, que mantinha na cidade uma fazenda e uma empresa de exportação e importação de frutas. A PF descobriu na ocasião que pacotes de cocaína eram acondicionados em fundos falsos de caixas de frutas exportadas para a Europa. Olga, porém, inocentou os principais acusados, argumentando que eles eram apenas consumidores de drogas. Bautista foi preso em flagrante novamente, no mês passado, no Uruguai, com 485 quilos de cocaína. INQUÉRITO - Na cerimônia de hoje, comandada pelo presidente do Tribunal de Justiça da Bahia, Benito Figueiredo, foram promovidos cinco magistrados do interior, por merecimento ou antiguidade - caso de Olga. Para Figueiredo, a denúncia contra Olga é grave e precisa ser apurada, tanto que o TJ abriu hoje inquérito sobre a atuação da juíza. Mas, por enquanto, a promoção está mantida. Após a cerimônia, Olga limitou-se a dizer um "com certeza" quando perguntada se era inocente das acusações da PF. "Vamos provar que ela é uma pessoa íntegra", afirmou seu advogado, Mauricio Vasconcelos.

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