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Líderes mundiais discutirão crise dos alimentos em Roma

Por ROBIN POMEROY
Atualização:

O fenômeno foi descrito como uma crise mundial capaz de privar 100 mil pessoas de seus alimentos básicos, provocando levantes e instabilidade política, além de fazer regredir em sete anos a luta contra a pobreza no planeta. Agora, a crise do preço dos alimentos será debatida por líderes que se reúnem em Roma, na próxima semana, a fim de buscar formas de reduzir o sofrimento da parcela mais pobre do mundo e garantir que a Terra consiga produzir mais comida para uma população cada vez maior. "Chegou a hora de entrarmos em ação", disse Jacques Diouf, chefe da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO), que convocou a cúpula no ano passado antes de ter ficado clara a dimensão da crise atual. O presidente do Banco Mundial, Robert Zoellick, sublinhou a urgência do problema, anunciando um montante de 1,2 bilhão de dólares em empréstimos e concessões para países com dificuldades para responder aos altos preços dos alimentos e dos combustíveis. "É crucial que nos concentremos em ações específicas", disse. "Essa não é uma questão como a da Aids, na qual se precisaria de algum avanço em termos científicos. As pessoas sabem já o que fazer." Uma combinação de fatores, incluindo safras ruins, estoques baixos e expansão da demanda, acumulou-se por cerca de um ou dois anos para provocar um aumento repentino e acentuado no preço de vários produtos alimentícios. Esses preços devem continuar altos nas próxima década mesmo que baixem dos patamares recordes atuais, disse a FAO em um relatório recente. Diouf afirmou esperar que 40 chefes de Estado e de governo compareçam ao encontro, do qual participará o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O encontro ocorre entre a terça e a quinta-feira da próxima semana. Ban Ki-moon, secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), que criou um força-tarefa para tratar do problema, participará da reunião, bem como os líderes do Brasil, da França, da Espanha, da Argentina, do Japão e de alguns países africanos. O presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, deve comparecer à parte ocidental da Europa pela primeira vez desde que assumiu o cargo. Delegados de 151 países devem também estar presentes, mas as negociações podem revelar profundas desavenças quanto a questões relacionadas com os alimentos e a fome: o livre comércio, os biocombustíveis e os organismos geneticamente modificados. A PRAGA DA FOME "Os problemas mundiais são muito mais complexos do que identificar o que é bom ou ruim", afirmou Diouf à Reuters quando questionado sobre se previa o surgimento, na cúpula, de críticas devido ao aumento da produção de biocombustíveis -- geralmente fabricados a partir de vegetais comestíveis -- nos EUA e na Europa porque essa atividade estaria contribuindo para a disparada do preço dos alimentos. "Sabemos com certeza que o desvio de cerca de 100 milhões de toneladas de cereais para os biocombustíveis teve um impacto sobre o preço dos alimentos", acrescentou. Josette Sheeran, chefe de uma outra agência de distribuição de comida com sede em Roma, o Programa Mundial de Alimentos (WFP), precisou requisitar um montante suplementar de 755 milhões de dólares a fim de cobrir os custos adicionais resultantes da elevação dos preços. Tendo conseguido cobrir esse valor por meio de doações, Sheeran afirmou que a crise deveria ser vista como "um alarme para que o mundo entre em ação agora a fim de derrotar a praga da fome de uma vez por todas". As futuras regras sobre o comércio de produtos agrícolas são consideradas uma parte fundamental de qualquer estratégia de longo prazo para reduzir a pobreza e a fome. Os países em desenvolvimento há muito tempo reclamam sobre os alimentos excessivamente subsidiados da Europa e da América do Norte que chegam a seus mercados, prejudicando seus próprios produtores.

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