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Londres 2012: 'Casa' de Marta, Suécia é modelo de organização no futebol feminino

País nórdico nunca conquistou medalha olímpica, mas atrai jogadoras de alto nível - entre elas brasileiras - com 'estrutura de outro mundo'.

Por Paula Adamo Idoeta
Atualização:

O futebol feminino estreia nesta quarta-feira na Olimpíada de Londres, de olho no país que tem uma das melhores ligas do mundo e que voltou a abrigar a brasileira Marta: a Suécia. Os EUA ficaram com o ouro em Pequim-2008, e a prata foi conquistada pelo Brasil. Mas, no que diz repeito a campeonatos nacionais, a Suécia mostrou mais força: o clube Tyresö contratou Marta em fevereiro deste ano, depois que a brasileira ficou sem ter onde jogar tanto nos EUA, onde a liga de futebol feminino foi suspensa nesta temporada, como no Brasil, onde o Santos encerrou as atividades de seu time feminino. A jogadora, condecorada cinco vezes consecutivas como melhor do ano pela Fifa, já havia jogado entre 2004 e 2008 no sueco Umea IK, de onde ajudou a popularizar o esporte na Suécia. De lá foi para os EUA e depois emprestada para o Santos. Ao regressar à Suécia, disse estar de volta "à sua segunda casa". Além da popularidade de Marta, porém, o futebol feminino sueco é sustentado por uma estrutura maior, que envolve o fomento a categorias de base e fontes de financiamento aparentemente estáveis. Segundo Staffan Stjernholm, porta-voz da Associação Sueca de Futebol, o país de 9 milhões de habitantes tem 80 mil futebolistas do sexo feminino, a partir de 15 anos, que jogam em mais de 3 mil clubes pelo país. A Suécia também tem seis seleções nacionais de base, diz ele, para jovens de 15, 16, 17, 18, 19 e 23 anos. "Diversas garotas querem jogar, e não têm dificuldades em encontrar clubes", diz à BBC Brasil o jornalista esportivo Mats Brâstedt, do jornal Expressen. Num país pequeno, e em que os clubes ficam concentrados no centro e no sul, o deslocamento das jogadoras também é mais fácil do que num país do tamanho do Brasil, diz Brâstedt. "O futebol feminino é uma coisa muito grande aqui", afirma a brasileira Elaine, que joga com Marta no Tyresö - e que foi cortada da seleção brasileira por causa de uma lesão, nesta terça-feira. "Daqui (da Suécia) eu não saio para me aventurar em outro país. A estrutura é coisa de outro mundo. Sempre indicamos jogadoras brasileiras, para encher a liga sueca, ainda que eu preferisse que fosse assim no Brasil." Transmissão e financiamento Marta e Elaine são celebridades locais, já que as partidas do campeonato futebol feminino (com 12 equipes) são transmitidas semanalmente pela TV sueca. Algumas partidas de futebol feminino chegaram a se tornar marcos televisivos: a final da Copa do Mundo de 2003, perdida para a Alemanha, foi assistida pela metade da população do país, diz o jornalista Brâstedt. A exposição na TV não apenas ajuda a tornar o esporte mais popular, como também colabora para seu financiamento, segundo Stjernholm. Ele explica que a liga de futebol é financiada pelos meios tradicionais - venda de direitos de transmissão e patrocínio privado. No caso das seleções nacionais, o financiamento é feito pela loteria estatal, pela venda de licenças e pela venda de direitos de transmissão de jogos como os da Copa do Mundo. Essa última fonte é usada para sustentar projetos especiais, como os 24 instrutores que a Associação de Futebol Sueca usa para selecionar talentos em âmbito regional. Com essa estrutura, o país sagrou-se neste ano campeão de futebol feminino da Uefa (liga europeia) na categoria sub-19. Essa seleção vencedora é considerada por Brâstedt um celeiro de novos talentos para a seleção feminina principal. A liga do país também espera um fluxo de jogadoras vindas da liga americana, suspensa em 2012 por causa de empecilhos legais e financeiros. Para Elaine, a liga americana se mostrou ser "algo momentâneo". "Não foi real. Agora acaba deixando várias meninas sem clube." Na Suécia há oito anos, a volante diz que ganha o suficiente para sustentar seu apartamento na Suécia e ajudar sua mãe na Bahia. Mas concilia o futebol com um emprego administrativo em terras suecas, "porque vou fazer 30 anos e não basta jogar futebol". Olimpíada Marta é hoje a "jogadora mais famosa da Suécia", nas palavras de Brâstedt. Mas, sem poder contar com a brasileira em sua seleção nacional, na Olimpíada o país nórdico aposta nas estrelas Lotta Schelin (campeã da Uefa em 2011, pelo Lyon) e Caroline Seger (que joga com Marta no Tyresö). Segundo Brâstedt, é grande a expectativa e a pressão para que, desta vez, a seleção sueca passe das quartas de finais e dispute o ouro em Londres. O Brasil também é tido como um dos favoritos ao título, ao lado de Japão e EUA. O Brasil, que estreia na Olimpíada nesta quarta, contra a seleção de Camarões, divide o grupo E também com Grã-Bretanha e Nova Zelândia. A Suécia divide o grupo F com Japão, Canadá e África do Sul. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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