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Londres 2012: Já no 1º dia, Sarah Menezes e Kitadai cumprem metade da meta do judô brasileiro

Ouro da piauiense e bronze do paulista colocam o Brasil muito perto de ter a melhor Olimpíada da sua história no esporte.

Por Daniel Gallas
Atualização:

Em apenas um dia de Olimpíadas em Londres, Sarah Menezes e Felipe Kitadai já cumpriram mais da metade das metas da Confederação Brasileira de Judô (CBJ) para os Jogos. A CBJ chegou a Londres com dois objetivos: chegar à primeira final feminina do Brasil em Olimpíadas e conquistar pelo menos quatro medalhas no caminho. Os judocas brasileiros conseguiram subir no pódio nas únicas duas modalidades em disputa neste sábado. O paulistano Kitadai, 14º no ranking mundial, não era favorito a ganhar medalha na categoria até 60kg, mas conquistou o bronze ao derrotar o italiano Elio Verde, com um yuko. Já a piauisense Sarah Menezes superou a meta da CBJ e não só foi à final feminina na categoria até 48kg, como também conquistou o ouro. O primeiro ouro da história do judô feminino veio com uma vitória sobre a romena Alina Dumitru, que foi campeã olímpica em Pequim 2008. A vitória veio com pontos marcados no minuto final - um yuko e um wazari. Se o judô brasileiro ganhar apenas mais uma medalha, de qualquer cor, Londres 2012 já será a melhor olimpíada para o Brasil na modalidade. Em Los Angeles 1984, o Brasil conquistou três medalhas no judô - mas nenhuma de ouro. O país ainda disputará 12 medalhas nos próximos seis dias - com grandes chances de repetir medalhas em diversas faixas de peso. De Teresina para Londres Após suas medalhas, tanto Menezes quanto Kitadai falaram sobre as difíceis escolhas - e até opostas - que precisaram fazer nas suas vidas antes de chegar às medalhas. Desde cedo em sua vida, a piauiense Sarah Menezes, de 22 anos, enfrentou dois desafios. O primeiro foi a desaprovação da família, que disse considerar judô um esporte "masculino". Além disso, eles não queriam que a jovem largasse os estudos para se dedicar exclusivamente ao esporte. "Eu entrei em acordo com eles. Eu pedi para continuar no esporte, mas disse que ia me dedicar aos estudos. Eu tinha que treinar e estudar, e conciliar as duas coisas", disse Menezes após o ouro. "Quando eu comecei a viajar, e eles viram que eu tinha talento, eles pararam com essa barreira. E deu tudo certo", disse Menezes. Mesmo sem ser cobrada mais nos estudos, ela se orgulha de que vai conseguir concluir o curso universitário em Educação Física. "Estou quase me formando. Nunca parei de estudar para treinar, e consigo conciliar ainda hoje o meu treino com os meus estudos." A outra escolha difícil da piauiense foi permanecer em Teresina e não se mudar para um grande centro esportivo, como São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre. Ela disse se sentir um exemplo de que não é preciso mudar de cidade para ser campeão, e que as vitórias dependem mais "da cabeça do atleta". "Eu acreditei muito no meu talento, muito no meu treinador e muito em toda a estrutura que tenho em minha cidade: psicóloga, a parte física, meus companheiros de treino, e de mim mesma, principalmente, e da vontade que eu tinha de chegar aqui", disse a atleta piauiense. "Eu sou um exemplo no judô porque não venho dos grandes centros. Agora vou continuar sendo um maior exemplo ainda, por causa desta medalha. E isso eu tenho certeza que vai fazer com que outros atletas acreditem, que o que falta mesmo é a confiança de que todo mundo é capaz de chegar em um ponto alto." Sarah Menezes superou a vietnamita Ngoc Tu Van, a francesa Laetitia Payet e a chinesa Shugen Wu até chegar às semi-finais, onde derrotou a belga Charline van Snick com extrema frieza. A final contra a campeã de Pequim 2008, a romena Alina Dumitru, foi tensa. Sarah Menezes chegou a se pendurar no braço da romena, que sentiu dores no cotovelo. O resultado campeão de Sarah veio nos minutos finais, com um wazari e um yuko. Caminho oposto Kitadai, que conquistou a medalha de bronze, fez a decisão oposta. O atleta recebeu o convite do judoca gaúcho João Derly - bicampeão mundial - para trocar São Paulo por Porto Alegre, onde o clube Sogipa estava montando uma grande estrutura para o judô. "Eu recebi uma proposta do João Derly, que é meu grande amigo, e me convidou para ir para lá treinar com ele. A Confederação Brasileira auxiliou e me disse: 'acho que você precisa de força, e lá no Rio Grande do Sul é onde existe mais força no Brasil'. Então eu pensei em ir para lá", afirmou Kitadai, que já pensa em conquistar um ouro nos Jogos Olímpicos de 2016. Kitadai conta que telefonou para João Derly imediatamente após a luta, e chorou ao conversar com o amigo, a quem chama de "meu segundo pai". João e sua família hospedaram Kitadai por três meses em sua casa, para que o jovem não se sentisse sozinho em uma cidade nova. A mãe de Filipe Kitadai contou à BBC Brasil que a adaptação do atleta em um novo ambiente foi tranquila, graças ao suporte que ele recebeu de seu clube. "Foi muito tranquilo, ele tinha o objetivo dele que era Olimpíadas. O pessoal da Sogipa sentiu isso, deu todo o suporte, toda a sustentação para ele chegar lá, e ele foi pelo ideal dele mesmo", disse Lourdes Kitadai, que trouxe sua família para Londres para acompanhar o filho. Durante as lutas, pais e irmãos vestindo uma camiseta com o nome do atleta gritavam palavras de apoio. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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