O sindicato dos músicos da Grã-Bretanha, a Musicians Union (MU), está pedindo a músicos britânicos que se recusem a tocar de graça durante os Jogos Olímpicos de Londres. A medida é uma resposta a denúncias, por músicos, de que os organizadores dos jogos - o London Organising Committee of the Olympic and Paralympic Games, ou Locog - teriam contactado profissionais convidando-os a tocar no Parque Olímpico sem remuneração. No ano passado, representantes da MU e do TUC - a federação nacional de sindicatos britânicos - fizeram um acordo com o comitê organizador dos jogos segundo o qual trabalhadores profissionais contratados para o evento receberiam salários. Pop stars e músicos amadores, trabalhando como voluntários, estariam excluídos, podendo oferecer seus serviços gratuitamente. Segundo a MU, no entanto, o acordo está sendo desrespeitado. A MU contactou o Locog, o prefeito de Londres e o ministro da Cultura da Grã-Bretanha para protestar. "O Locog nos disse repetidas vezes que todos os músicos profissionais seriam pagos, mas encontramos exemplo após exemplo de que eles estão quebrando sua palavra", diz o site da MU. "Se querem que músicos entretenham milhares de pessoas, devem pagar por isso. Ganhar um salário decente como músico profissional hoje em dia já é difícil o suficiente. De onde é que vem essa ideia, de que os músicos deveriam ficar felizes em trabalhar de graça? Quem ficaria?" Em resposta, o comitê disse à BBC que não tem conhecimento de pedidos oficiais a músicos, pelo Locog, para que se apresentem gratuitamente. "Temos os e-mails como prova", rebate o site da MU. "E eles estão vindo de funcionários do Locog". A BBC Brasil também obteve uma cópia de um dos e-mails. Nova Estratégia O representante da MU Horace Trubridge disse à BBC Brasil que o último desdobramento no caso - que começou a ser noticiado pela imprensa britânica em junho - aconteceu na semana passada. "A nova tentativa desesperada do Locog de conseguir música de graça durante os jogos foi pedir a buskers (músicos de rua) que se apresentem no Parque Olímpico", disse. "Eu telefonei ao Locog para saber se os músicos terão permissão de recolher doações do público e a resposta foi não". "Nosso argumento é, você não pede a um encanador que venha trocar seu encanamento de graça, mesmo que ele goste do que faz", disse Trubridge. "E no caso dos músicos de rua, muitos deles estudaram em colégios prestigiosos e vão às ruas mostrar seu talento em troca de doações. Isso não quer dizer que sejam amadores". Plateia Internacional O trombonista Steve Haynes foi um dos músicos abordados pelo Locog. Ele toca regularmente em um teatro do West End londrino e também lidera seu quinteto, o Barbican Brass. "Quando soube que os Jogos Olímpicos viriam para Londres, fiz questão de preparar um repertório adequado a um evento como esse". Quando o convite para tocar chegou, no entanto, não havia remuneração. "No e-mail, eles me convidaram a 'exibir meu talento para o mundo', porém sem pagamento". Briga Antiga Estrelas internacionais como Paul McCartney, Jay Z, Tom Jones e as bandas Blur e Duran Duran vão fazer shows gigantescos durante os jogos - segundo relatos, sem qualquer remuneração. Tanto Haynes quanto Trubridge argumentam que grandes nomes, acostumados a recebem cachês milionários, podem se dar ao luxo de tocar de graça. Mas dizem que é importante que o público entenda que a grande maioria dos músicos tem de trabalhar duro para pagar as contas e sustentar a família. Trubridge reconhece que o problema é antigo e que os próprios músicos têm uma parcela de responsabilidade nisso. "Infelizmente, alguns músicos aceitam trabalhar de graça e isso nos coloca nessa posição tão indigna". BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.