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Londrinos abrem suas casas para a arte brasileira

Rio Occupation London, que é parte dos eventos culturais da Olimpíada de Londres, 'ocupa' casas de britânicos com performances de artistas brasileiros.

Por Paula Adamo Idoeta
Atualização:

É uma típica casa londrina, habitada por típicos londrinos. Mas, por apenas algumas horas, essa casa se deixou "ocupar" por uma performance de arte brasileira. Shiri Shalmy, que mora no norte de Londres, respondeu um anúncio divulgado pela diretora brasileira Christiane Jatahy, no qual esta pedia: mande-nos uma carta se você quiser receber artistas brasileiros em sua casa. Shiri respondeu dizendo que tinha interesse em arquitetura e urbanismo. Resultado: na sexta-feira passada, recebeu em sua casa uma trupe formada pelo arquiteto Pedro Rivera, o fotógrafo Ratão, a própria Jatahy e um cinegrafista. Eles tomaram conta do jardim de Shiri. Montaram uma mesa, distribuíram giz de cera para os convidados da londrina e entregaram-lhes pequenos pedaços do mapa de Londres, perguntando: O que vocês pensam sobre essas áreas da cidade? Isso abriu um debate informal - todos usavam máscaras da família real e bebiam cerveja - sobre as diferentes comunidades londrinas e como elas estão sendo afetadas pelos Jogos Olímpicos de 2012. Outras diversas casas também foram "ocupadas" por artistas diferentes, com apresentações de música, dança, arte e até gastronomia brasileiras. A iniciativa é parte do projeto Rio Occupation London, em que 30 artistas brasileiros estão levando a arte contemporânea do Rio de Janeiro à capital britânica, numa tentativa de conectar as cidades-sede das Olimpíadas de 2012 e 2016. "Cada performance foi completamente diferente uma da outra", disse Jatahy à BBC Brasil. "Na casa de Shiri, tivemos uma abordagem bem intelectual. Em outra casa, preparamos uma refeição acompanhada de música brasileira." Para a diretora, "nada é mais íntimo do que levar a arte para dentro das pessoas. Quando a pessoa abre a sua casa, a ideia de ocupação, apesar de ser mínima, é profunda". Tanto que um dos moradores de uma das casas "ocupadas" ficou ressabiado: "Ele perguntou se íamos embora antes das 22h. Quando dissemos que sim, ficou aliviado: 'Pensei que vocês fossem ficar'", contou Jatahy. Imagens De volta à casa de Shiri, foi a vez do fotógrafo Ratão tomar a palavra. Ele distribuiu fotografias tiradas no Brasil a Shiri e seus convidados, pedindo que eles escolhessem a que mais gostassem. Para Ratão, "num mundo tão saturado de imagens, ficou difícil lê-las". As fotos deram a deixa para que o assunto se voltasse para as transformações urbanas pelas quais as cidades brasileiras estão passando, incluindo as feitas no Rio para a Olimpíada de 2016. Terminada a performance de Ratão e Rivera, a estrutura no jardim de Shiri foi desmontada, e os artistas brasileiros se despediram, rumo a outra "ocupação" em outra casa de Londres. Shiri, por sua vez, gostou do resultado. "Eu realmente não sabia o que esperar, o que foi ótimo. Sou curadora de arte e estou acostumada a ter o controle da produção artística ao meu redor. Mas foi bom que eu não soubesse, foi como ter uma discussão sem ter se preparado. Você é desafiado", disse ela. Ela explicou que se submeteu à experiência do Rio Occupation justamente por estar mais interessada no lado urbanístico e cultural da Olimpíada do que nas competições em si. "Me interesso pelas cidades, pela forma como elas trabalham ou não pelas pessoas. E, com a Olimpíada, queria alguém que explorasse essas questões", disse ela. "E o arquiteto (Pedro Rivera) estava muito interessado em Londres. E isso me fez pensar: 'Nossa, estou realmente interessada no Brasil agora'." A "ocupação" na casa de Shiri e nas demais residências londrinas selecionadas para o projeto será transformada em um documentário, a ser apresentado por Jatahy ao final do Rio Occupation London, no início de agosto. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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