PUBLICIDADE

Lula: Brasil devolverá contêineres de lixo à Inglaterra

Por Anne Warth
Atualização:

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse hoje que o Brasil vai devolver para a Inglaterra os contêineres de lixo enviados por uma empresa de propriedade de um brasileiro para os portos de Santos (SP) e de Rio Grande (RS). Ao participar da abertura da 5ª Feira Internacional de Produtos Orgânicos e Agroecologia, na capital paulista, o presidente afirmou que o País pretende investigar as circunstâncias nas quais os contêineres foram enviados, mas disse que não restará outra saída senão enviá-los para seu país de origem.O presidente lembrou o caso do lixo exportado quando falava sobre as exigências que os países da União Europeia (UE) fazem para adquirir produtos brasileiros como etanol, soja e carne, colocando como impedimento uma suposta falta de sustentabilidade na produção desses itens. "Eles que são tão limpos e que querem despoluir tanto mandam para cá contêineres de lixo dizendo que é para reciclagem. Quem vai reciclar uma camisinha? Quem vai reciclar lixo hospitalar? Pegar uma seringa, reciclar e aplicar de novo?", disse Lula. "Nós não queremos exportar o nosso lixo. Não vamos importar lixo dos outros. Queremos importar outras coisas, não lixo."Segundo o presidente, a investigação de como o lixo inglês veio parar nos portos brasileiros envolverá o Ministério do Meio Ambiente, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), a Polícia Federal (PF) e o Ministério Público (MP). "O Carlos Minc (ministro do Meio Ambiente) sabe que nós vamos ter de fazer uma investigação séria", disse. "Só temos uma saída, que é devolver esses contêineres para de onde ele vieram."Lula afirmou ainda que a base da economia dos países europeus foi, por muito tempo, o carvão e disse que o trabalho nas minas é muito mais pesado que nos canaviais. "Há algum tempo, discutindo com países da União Europeia, eles começaram a dizer que o etanol brasileiro não tinha muito valor porque ainda havia trabalho escravo, que o trabalho na cana-de-açúcar era muito penoso e insalubre e que isso passaria a ser uma desvantagem para o Brasil comercializar o etanol no mundo", afirmou."Esses países que agora estão achando que esse trabalho na cana é penoso - e certamente o é - esqueceram que a base da economia deles foi o desenvolvimento e a exploração do carvão. Trabalhar numa mina de carvão é infinitamente mais penoso do que trabalhar cortando cana", disse o presidente. "É só descer 90 metros numa mina de carvão e explodir um cartucho de dinamite lá dentro para a gente saber a diferença entre cortar cana e tirar carvão."''Humanização'' do trabalhoLula lembrou que, recentemente, o governo conseguiu que a maioria dos usineiros brasileiros fechasse um acordo para humanizar o trabalho no campo. Segundo ele, 303 empresários que representam 85% das usinas do País aderiram ao tratado, que prevê que os trabalhadores dos canaviais tenham acesso à água potável, a sanitários e à alimentação em seus locais de trabalho. "Não tem nenhuma grande conquista, é apenas a humanização", afirmou.O presidente Lula lembrou ainda que países europeus também tem de se comprometer a reduzir as emissões de gases e a substituição de combustíveis fósseis por etanol seria uma boa alternativa. Durante o evento, o presidente assinou um decreto que estabeleceu um procedimento para o registro de insumos que contenham em sua composição apenas substâncias permitidas para o manejo e controle de pragas e doenças para uso na agricultura orgânica. Segundo o governo, a nova legislação vai simplificar o registro e manter o rigor técnico em relação à preservação da saúde humana e do meio ambiente.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.