Lula quer manter tamanho da reserva indígena em Roraima

Presidente pede à AGU para convencer ministros do STF a manter tamanho e formato da Raposa Serra do Sol

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Por Luciana Nunes Leal
Atualização:

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva recomendou nesta terça-feira, 15, ao advogado-geral da União, José Antonio Toffoli, que trabalhe para convencer os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) a manter o tamanho e o formato atual da reserva indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima. "O presidente Lula pediu a defesa da homologação contínua junto ao STF", resumiu Toffoli, que se reuniu hoje com Lula no Palácio do Planalto. Veja também: Governo cria grupo para tratar impasse em Raposa Serra do Sol Enviado especial a Roraima, Roldão Arruda fala sobre a tensão na Raposa Serra do Sol  Galeria de fotos da Raposa Serra do Sol 'Roraima é do Brasil graças aos índios', diz especialista FÓRUM: A PF quer tirar os arrozeiros da reserva indígena, mas a operação foi suspensa. Dê sua opinião sobre o conflito  Saiba onde fica a reserva e entenda o conflito na região    Entre as ações sobre a reserva no STF, há pedidos de suspensão do decreto do governo Lula que definiu a Serra do Sol como uma faixa contínua de terra, com total de 1,7 milhão de hectares (17 bilhões de metros quadrados). A alternativa a este formato é a demarcação por meio de "ilhas", ou pedaços de terras não contínuos, o que implica na redução da extensão total da reserva. A tensão em torno da ocupação da terra indígena Raposa Serra do Sol - homologada há três anos pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva - aumentou nos últimos dias. O motivo foi o início, no dia 27 de março, da Operação Upakaton 3 - nome dado pela Polícia Federal à serie de ações com que as autoridades federais pretendem retirar da área os últimos ocupantes que ainda estão lá: pequenos proprietários rurais, alguns comerciantes e um grupo de grandes e influentes produtores de arroz. Em reunião com índios de várias organizações da reserva indígena, o advogado-geral pediu união dos diferentes grupos, o que, segundo ele, é fundamental para o convencimento dos ministros. O que se viu no encontro, no entanto, não foi harmonia entre os indígenas. A certa altura, o vice-presidente Sociedade em Defesa dos Indígenas Unidos no Norte de Roraima (Sodiur), Sílvio da Silva, entidade que tem integrantes defensores dos arrozeiros, afirmou que, se a decisão for a retirada dos não-índios, seria necessário também "tirar padres e gringos" da reserva. Foi uma provocação ao Conselho Indígena de Roraima (CIR), mais próximo da Igreja Católica e que reivindica a total retirada dos não-índios. "Faltou, então, falar nos evangélicos, nos pastores. Se é para fazer arrastão, tem de identificar todo mundo", reagiu o coordenador regional do CIR, Valter de Oliveira, em referência à ligação da Sodiur com igrejas protestantes. "O pessoal do CIR diz que a gente tem medo deles. Eles é que têm medo da gente", tinha dito Silva, um pouco antes. Relator Na semana passada, o relator do caso Raposa Serra do Sol no Supremo, ministro Carlos Ayres Britto, e vários outros membros da Corte mostraram ter dúvidas sobre a demarcação contínua. Além do formato e do tamanho da reserva, os ministros terão de decidir sobre a permanência ou retirada de moradores não-índios, em especial sete rizicultores que insistem em permanecer nas terras demarcadas. Operação da Polícia Federal (PF) para a retirada dos não-índios está suspensa por decisão liminar unânime dos ministros do STF. O futuro presidente do STF, ministro Gilmar Mendes, prometeu que a votação do mérito das ações referentes à Raposa Serra do Sol acontecerá neste primeiro semestre. "O Supremo vai decidir. À Advocacia-Geral da União, cabe levar os argumentos de que a resistência à demarcação contínua não procede", afirmou Toffoli. Ele deu as linhas gerais da defesa do formato atual. Um dos argumentos combaterá a tese do governo de Roraima de que a crescente demarcação de reservas indígenas, que as tornam terras da União, fere a autonomia do Estado e o princípio federativo.

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