Mais da metade dos estudantes falta à reaplicação do Enem em 17 Estados

Por causa de erros na avaliação realizada em 6 de novembro, Ministério da Educação convocou 9,5 mil alunos para refazer a prova do Exame Nacional do Ensino Médio; desmotivados e inseguros, candidatos consideraram este exame mais complexo

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Por Eduardo Kattah , Liege Albuquerque , Felipe Oda , Júlio Castro , João Naves de Oliveira , Eliana Lima , Lucas Azevedo , Ariane Salles , Antonio Carlos Garcia e Thiago Lins
Atualização:

Pouco menos da metade dos 9,5 mil estudantes de 17 Estados brasileiros convocados pelo Ministério da Educação (MEC) para a reaplicação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) compareceram ontem ao local da prova. O clima era de desmotivação nas escolas e, na saída, muitos consideraram o novo exame mais difícil do que o primeiro.

 

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Na Faculdade Anhanguera, em Belo Horizonte, Luiz Guilherme Bones de Souza, de 18 anos, não escondia a revolta por ter de refazer a prova. "Espero que não seja a mesma palhaçada da outra vez. Estudei o ano inteiro para ocorrer isso", reclamou ele, que busca uma vaga em Direito na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

 

Em Salvador, 7 dos 16 alunos convocados pelo MEC fizeram a prova. Karla Milena da Mata Silva, de 27 anos, que pleiteia uma vaga em Urbanismo ou Administração, afirmou que estava insegura por causa dos sucessivos problemas ocorridos no exame desde o ano passado. "A gente faz porque não tem outro jeito. Mas estou com o pé atrás. Vim segura dos conhecimentos que obtive, mas insegura em relação à prova."

 

Foram chamados para refazer as provas de ciências humanas e suas tecnologias e ciências da natureza e suas tecnologias os alunos prejudicados pela inversão da ordem do cabeçalho do cartão-resposta e pelos erros de impressão e montagem no caderno de cor amarela do exame aplicado em 6 de novembro, primeiro dia do Enem 2010.

 

Para chegar aos estudantes, o MEC analisou as atas das salas onde a prova foi aplicada. A Justiça chegou a liberar o Enem para todos os candidatos que se sentissem prejudicados, mas o governo conseguiu derrubar a decisão. Segundo o MEC, 35 alunos fizeram a prova graças a liminar (mais informações nesta página).

 

A abstenção de ontem não surpreendeu o ministro da Educação, Fernando Haddad. "Isso mostra que alunos não se sentiram prejudicados." Ele afirmou que o ministério procurou ser "o mais abrangente possível" ao estabelecer critérios para que alunos pudessem fazer a prova novamente. O ministro descartou a possibilidade de que o baixo comparecimento tenha ocorrido por falta de interesse após as falhas apresentadas neste ano.

 

De acordo com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), responsável pela aplicação da prova, o exame realizado em 6 de novembro não será utilizado para o cálculo da nota final para os estudantes que refizeram a prova ontem. Caso contrário, continuará valendo a nota da prova de novembro.

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Dificuldade. Depois da prova, estudantes afirmaram que não houve falhas e classificaram o novo exame de mais difícil, com um vocabulário mais complexo. "Foi uma prova gigante, cansativa, mas no mesmo nível da outra. A diferença ficou por conta do significado das palavras. O vocabulário foi mais cobrado", analisou Ramon Maciel de Sousa, de 17 anos, após 2 horas e 30 minutos de prova em Florianópolis. "As questões de história e geografia estavam muito mais difíceis", afirmou o estudante, que tenta ingressar em Engenharia Civil. Na Escola Estadual Getúlio Vargas, onde Sousa refez o exame, faltaram 70% dos 202 convocados.

 

O estudante Fernando Antônio Tavares, de 18 anos, que tenta uma vaga em Nutrição na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), queixou-se: "Com certeza vou sair perdendo, mas o que posso fazer?" Tavares foi o primeiro a deixar o prédio da Escola Superior de Relações Públicas, no Recife.

 

Outro candidato que reclamou foi Fernando Lira, de 18 anos, que quer estudar Engenharia de Produção, também na UFPE. "Foi mais difícil que a anterior, sim". Para Lira, o intervalo de mais de um mês entre a aplicação de uma prova e outra foi insuficiente para estudar mais e elevar a nota. Por isso, ele disse acreditar que os estudantes que não tiveram de refazer a prova acabaram beneficiados.

 

Já o estudante Guilherme Tremea, de 19 anos, saiu da prova com outra impressão. "Achei mais fácil que a outra."

 

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O fato de a prova ter ocorrido em uma quarta-feira - e não em um fim de semana - também foi motivo de reclamações. "Precisei deixar alguns compromissos para realizar a prova", contou Jeferson Alves, de 29 anos, de Curitiba, que trabalha com manutenção elétrica e tentará uma vaga na área. "Meu chefe não queria me liberar, mas ele é gente boa. Fazer o quê? É o meu futuro", disse Lucas Campolina Leão, de 18 anos, candidato a Engenharia de Minas. "Eu consegui a dispensa, mas tem alguns serviços que não liberam. E quem tem filho pequeno, como faz", perguntou Lais Hessel Ladeira, de 22 anos, em Porto Alegre.

 

Próximos passos. O Inep informou que os gabaritos e as provas reaplicadas ontem serão divulgados em seu portal na próxima terça-feira, às 18 horas. E divulgou que os resultados do Enem 2010 estarão disponíveis na primeira quinzena de janeiro.

 

Baixo quórum em SP

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Em São Paulo, haveria prova apenas em Itaquaquecetuba e em Ourinhos, mas na primeira cidade o único candidato não compareceu. Em Ourinhos, apenas dois fizeram a prova.

 

PARA LEMBRAR

 

Sucessão de problemas

 

No ano passado, o vazamento da prova do Enem, revelado pelo Estado em 1.º de outubro, provocou o adiamento do exame para dezembro.

 

Neste ano, os problemas começaram em agosto. Há três meses do Enem, o contrato com as empresas organizadoras não havia sido assinado. A gráfica Plural, de onde o exame vazou no ano passado, foi excluída da licitação, mas a Justiça suspendeu o processo e considerou ilegal a desclassificação. Houve atraso na pré-impressão do exame.

 

A prova foi aplicada nos dias 6 e 7 de novembro. No dia 6, alguns exames tinham erros de impressão e gabaritos estavam com os cabeçalhos invertidos e, em parte do lote da prova amarela, faltavam questões.

 

No dia 8, uma juíza federal do Ceará suspendeu o exame alegando que parte dos estudantes havia sido prejudicada e que todos reveriam refazer a prova. Quatro dias depois, a Justiça cassou a liminar. Dois professores de Remanso (BA) foram indiciados pelo vazamento do tema de redação.

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