Mangueira aposta em Brasis do Brasil para voltar ao topo

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Por CAROLINA FREITAS
Atualização:

A Estação Primeira de Mangueira tem pela frente um dos maiores desafios de seus 81 anos de carnaval: superar o 10º lugar amargado em 2008, depois de acusações de envolvimento do então presidente da escola, Percival Pires, com traficantes de drogas. Para dar uma guinada, a presidente Eli Gonçalves, a "Chininha", trouxe da concorrência o carnavalesco Roberto Szaniecki, que promete: "Vocês vão ver uma outra Mangueira na avenida, diferente de todas as outras. Do mesmo, só o verde e rosa." Confiante em uma virada a favor da Mangueira este ano, o carnavalesco coloca o samba-enredo, "A Mangueira Traz os Brasis do Brasil Mostrando a Formação do Povo Brasileiro", como ponto forte da escola. "É um dos melhores da safra", diz. "Todo mundo tem o samba da Mangueira na ponta da língua, até o pessoal das outras escolas." A inspiração para o enredo vem do livro "O Povo Brasileiro", do antropólogo Darcy Ribeiro. "Para dar ao conteúdo do livro uma cara carnavalesca, subdividi o desfile em miniescolas", conta Szaniecki. "Cada uma tem uma linguagem." A escola da zona norte do Rio conquistou o título de campeã do Grupo Especial pela última vez em 2002. O carnavalesco, que conquistou o terceiro lugar para a Grande Rio ano passado, afirma que as dificuldades da verde-e-rosa ficaram no passado. O ano de 2009 marca o primeiro carnaval depois da morte do eterno intérprete mangueirense, Jamelão, aos 95 anos, em junho passado. Debilitado pela idade e por acidentes vasculares cerebrais, Jamelão estava ausente dos desfiles desde 2007. A responsabilidade de cantar o samba-enredo da Verde e Rosa fica mais uma vez com Luizito. À frente dos 300 integrantes da bateria do mestre Taranta, vem a rainha Gracyanne Barbosa. A escola leva à avenida 4,5 mil componentes, 31 alas e oito alegorias. Negros, caboclos, sertanejos, caipiras e sulistas sambam pelos sete setores da Mangueira, desde a chegada dos colonizadores portugueses até a construção das metrópoles. O desfile encerra com a mistura de todos os "tipos" de brasileiros, no setor "Destino Nacional". "Vamos mostrar a migração dos nordestinos para o sudeste e dos sulistas para o norte", diz Szaniecki. "Recontamos a história do Brasil. Quem assiste ao desfile se reconhece em algum momento." "Superamos os problemas, com muita criatividade." A Mangueira é a quinta a desfilar na noite de hoje e deve entrar na avenida entre 1h20 e 2h20. Confira a seguir o samba-enredo da escola, composto por Lequinho, Jr. Fionda, Gilson Bernini e Gusttavo Clarão: "A Mangueira Traz os Brasis do Brasil Mostrando a Formação do Povo Brasileiro" Deus me fez assim filho desse chão Sou povo, sou raça... miscigenação Mangueira viaja nos Brasis dessa nação O branco aqui chegou No paraíso se encantou Ao ver tanta beleza no lugar Quanta riqueza pra explorar Índio valente guerreiro Não se deixou escravizar, lutou... E um laço de união surgiu O negro mesmo entregue à própria sorte Trabalhou com braço forte Na construção do meu Brasil É sangue, é suor, religião Mistura de raças num só coração Um elo de amor à minha bandeira Canta a Estação Primeira Cada lágrima que já rolou Fertilizou a esperança Da nossa gente, valeu a pena De Norte a Sul desse país Tantos Brasis, sagrado celeiro Crioulo, caboclo, retrato mestiço, De fato, sou brasileiro! Sertanejo, caipira, matuto... sonhador Abraço o meu irmão Pra reviver a nossa história Deixar guardado na memória, o seu valor Sou a cara do povo... Mangueira Eterna paixão A voz do samba é verde e rosa E "nem cabe explicação"

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