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Manifesto com 54 assinaturas critica política de aids do Brasil

Documento diz que o programa atual está desatualizado, além de ser insuficiente para resolver os desafios

Por Ligia Formenti e BRASÍLIA
Atualização:

Professores, pesquisadores, médicos e integrantes de movimento social divulgaram nesta última terça, 21, um manifesto em que afirmam que, enquanto outros países discutem a interrupção da transmissão da aids, o Brasil perde o controle sobre a epidemia. O documento, com 54 assinaturas, avalia que o programa está desatualizado, com elementos insuficientes para enfrentar os desafios, o que já começa a trazer reflexos para estatísticas da doença. "A afirmação de que a epidemia de aids está sob controle no Brasil, além de falaciosa, tem prejudicado a resposta nacional", aponta o documento. Os integrantes da carta lembram que a cada hora, uma pessoa morre de aids no País e apontam a redução da oferta de tratamento para gestantes com HIV indispensável para evitar a transmissão para o bebê. Segundo o grupo, o tratamento caiu de 53,8% de gestantes soropositivas em 2005 para 49,7% em 2008. O secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Jarbas Barbosa, disse ter recebido o documento com respeito, mas não concorda com os números. "Parte deles está desatualizada, outra parte, tem de ser avaliada num contexto", diz. Como exemplo, ele cita o aumento do número de mortes: "É preciso lembrar a população aumentou no período." Para a coordenadora do Núcleo de Estudos de Prevenção da Aids (Nepaids) e uma das idealizadoras do documento, Vera Paiva, o País perdeu ao longo dos anos a capacidade de inovar estratégias de combate à doença. "Aids deixou de ser prioridade, as discussões foram aos poucos se reduzindo e o resultado está aí: uma epidemia invisível." Leitos em SP. Um dos reflexos dessa desmobilização, afirma Vera, é a proposta de redução do número de leitos para aids em São Paulo. "O número de casos não caiu. Pacientes com HIV precisam de atendimento especializado, eles ainda sofrem estigma, discriminação", diz. A migração dos pacientes para atendimento geral, avalia, deve aumentar o estigma dos pacientes. A falta de ousadia, afirma, é reflexo da grande influência de grupos religiosos, que condena ações, por exemplo, nas escolas ou entre jovens gays. Provocação. O título do manifesto Aids no Brasil Hoje: O Que nos Tira o Sono - mesmo nome do blog oquenostiraosono.tumblr.com/manifesto - é uma referência a uma resposta dada pelo diretor do departamento de DST Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde, Dirceu Greco, durante a Conferência Internacional de Aids, realizada em julho. Questionado sobre o que lhe tirava o sono, ele teria dito que "dormia tranquilo". Barbosa defende Greco e afirma que a frase do diretor foi dita em um contexto em que ele afirmava ter resolvido o problema do abastecimento de remédios de aids. "Foi uma maldade", disse Barbosa.

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