Marcha em Caracas encerra campanha contra reformas de Chávez

Milhares de opositores foram às ruas pedir votos pelo 'Não' no referendo de domingo.

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Por Claudia Jardim
Atualização:

Dezenas de milhares de manifestantes da oposição venezuelana sairam às ruas nesta quinta-feira para encerrar a campanha eleitoral do "Não" à reforma constitucional proposta pelo presidente Hugo Chávez, que será submetida a referendo no próximo domingo. Repetindo a tendência das eleições anteriores, a oposição diz que não confia nos resultados que serão divulgados pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE). "Vamos respeitar os resultados, mas só se o CNE for transparente. Nós sabemos que somos maioria e, se tentarem nos enganar, levaremos o povo às ruas", discursou o prefeito opositor do município de Baruta, Henrique Capriles Radonski. Antes mesmo do discurso do prefeito, os manifestantes repetiam a mesma tendência. "O 'Sim' (chavista) vai ganhar domingo outra vez, mas porque vão roubar", disse à BBC Brasil Mauricio Greco, engenheiro eletrônico, que afirma que não confia no CNE, mas irá às urnas no próximo domingo. Em 2004, quando Chávez foi submetido a um referendo revogatório do mandato e saiu vitorioso, a oposição se negou a reconhecer os resultados eleitorais alegando fraude. Na ocasião, observadores internacionais da Organização de Estados Americanos e do Centro Carter legitimaram os resultados. Chávez antecipou nesta quarta-feira que a oposição tem um "plano armado para não reconhecer o triunfo do 'Sim'". "Primeiro fizeram umas pesquisas por aí manipulando as cifras para gerar dúvidas, dizendo que estamos perdendo e que eles ganharão. E se eles não ganharem, então é fraude", disse Chávez, em um ato de campanha no Estado de Mérida. Na reta final da campanha, as pesquisas de intenção de voto divulgadas não podem precisar a preferência do eleitorado e flutuam desde um empate técnico até uma vitória tanto do "Sim" quanto do "Não". A oposição, que até o ínicio desta semana estava dividida entre os que chamavam o povo a votar e os abstencionistas, se uniu em uma tentativa de fazer frente ao governo nas urnas. Nesta quinta-feira, a oposição tomou a emblemática Avenida Bolívar, cenário das manifestações do governo, para tentar medir forças com os chavistas, em aberta competição para ver quem consegue mobilizar o maior número de pessoas. "Estamos aqui para mostrar que somos maioria, por isso viemos ao lugar onde eles (chavistas) se manifestam", disse à BBC Brasil Patricia Mendoza, acompanhada de seu cachorro poodle. A manifestante admitiu que não conhece os artigos da reforma, mas se opõe à proposta "porque simplesmente não gosto do Chávez". Durante o percurso, que durou pelo menos três horas de caminhada e sem nenhum incidente, ficou marcada a tendência que vem se repetindo nos últimos nove processos eleitorais na Venezuela: classe média e alta engrossam as fileiras da oposição e os pobres apóiam o governo. A campanha do referendo popular foi marcada por casos isolados de violência, em especial de enfrentamentos entre estudantes e policiais, e deixou o saldo de uma pessoa morta. Um emergente movimento estudantil, a Igreja Católica, e partidos políticos de centro e direita assumiram o coro do "Não" à reforma, por considerarem que a alternabilidade na Presidência está sob ameaça e por não compartilharem da proposta de Chávez de instaurar um Estado socialista. A proposta mais polêmica no projeto de reforma é a que permite ao presidente ser reeleito sem limites de candidaturas, podendo concorrer a eleições imediatamente após o fim do seu mandato. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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