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'Me chamavam de boliviano assassino', diz ex-suspeito

Por Luciano Bottini Filho
Atualização:

A primeira coisa que o boliviano Alex Guinones Pedraza, de 33 anos, fez ao ser solto da cadeia na terça-feira, 24, foi assistir ao filme "Cidade dos Anjos". O DVD é o último presente que recebeu da namorada, Dina Vieira da Silva, de 42 anos, no domingo, dia 15, quando ele e a filha de 6 anos do casal deixaram o apartamento da família, em Ferraz de Vasconcelos, na Grande São Paulo. Um dia depois, ele encontrou os corpos de Dina e seus quatro filhos, todos menores de idade, dentro da residência. Detido por suspeita de ter matado a família por envenenamento, acabou solto após uma reviravolta no caso.Desde o começo Pedraza alegou inocência. Agora, a hipótese mais forte no inquérito é que a família tenha sido vítima de um vazamento no aquecedor de gás. Já no registro de ocorrência havia uma pista de que faltava uma tubulação no aparelho do imóvel, mas todas as atenções foram parar no boliviano. "Fiquei com medo. Pensei que ela poderia ter envenenado todo mundo e a culpa cair em mim", disse. Preso, Pedraza não pode enterrar a família e ainda não contou à filha que a mãe e os irmãos morreram. A polícia declarou no início das investigações que pediu a sua prisão temporária após levantar queixas de agressão de Dina contra ele e apreender restos de bolo e suco que poderiam estar envenenados. Na televisão, o chamavam de "boliviano assassino". Uma reportagem mostrou que Dina comunicou ter sido ameaçada de morte. O caso foi relacionado a outros familícidos, como o da família Pesseghini, em que um garoto de 13 matou os pais, a avó, a tia-avó e depois se suicidou. Falava-se em uma onda de assassinatos entre pais e filhos. Pedraza conta que no último final de semana com Dina todos estavam felizes. "Ela pensava em comprar um carro. Fomos ao mercado. Fizemos compras. Almoçamos e conversamos. Ela estava muito carinhosa e deu um filme para eu assistir, "Cidade dos Anjos". Na hora em que ela foi se despedir da filha, ela ficou abraçando bastante", afirma.A descoberta das mortesPedraza conta que pela janela ele viu as crianças jogadas no chão e pelo horário - eram 23h - ele achou que elas estavam dormindo. "Fiquei batendo na janela achando que elas fossem acordar". Segundo ele, nessa hora o síndico estava passando e ele o chamou dizendo que as crianças estavam desmaiadas. "Comecei a chorar e gritar. Um dos vizinhos de cima era policial e falou para arrombarmos a porta. Ele pegou a arma e desceu. Ninguém sabia o que era. O policial arrombou e não me deixou entrar. Os três mais novos me chamavam como se fosse pai. Conhecia todos desde criança."Mesmo sendo inocente, ele diz que ficou com medo de ser condenado. "Se ela se envenenou e botam a culpa em mim? Nunca me imaginei numa situação dessas, fiquei um pouco confuso. Vai que ela tivesse feito isso mesmo."Ao ser solto, ele conta que ficou escondido. "Achei uma injustiça falarem que eu era o culpado. Já falavam que eu era o boliviano assassino. Falaram que eu estava bêbado, mas eu não conseguia nem falar. Fiquei desesperado. Mas não estava bêbado."

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