PUBLICIDADE

Menina de 8 anos recebe córnea de garoto morto no Rio

Por Clarissa Thomé
Atualização:

A estudante Lariza Ludgero da Silva Santos, de 8 anos, voltou hoje a sonhar com um lugar nas fileiras do Colégio Militar, na Tijuca (zona norte do Rio). Há três meses, Lariza contraiu uma bactéria que lhe tirou a visão do olho esquerdo. Ela estava sem ir às aulas e perdia as esperanças de ingressar na escola que a prepararia para a desejada carreira de militar. Ontem, um telefonema recompôs as esperanças de Lariza. A família foi avisada de que a estudante deveria permanecer em jejum. Lariza recebeu hoje uma das córneas do menino João Roberto Amorim Soares. "Tudo o que eu quero é agradecer aos pais do João Roberto. Não tenho palavras. Não se agradece uma coisa dessas. Mas quero que eles saibam que o gesto deles devolveu à minha filha uma vida normal. Agora, eles fazem parte da minha família", disse o pai de Lariza, o motoboy e segurança Ricardo Ludgero dos Santos, de 36 anos. A estudante é a única filha dele e da mulher, a dona de casa Maria Lúcia Pereira da Silva, de 35 anos. Segundo Ricardo Ludgero dos Santos, Lariza contraiu a enfermidade conhecida como celulite ocular, provocada por um microorganismo. A infecção progrediu, rapidamente, e a pupila da estudante ficou com uma tonalidade esbranquiçada, que ela tentava esconder dos pais. "Um dia, fui fazer uma brincadeira com ela e comecei a aproximar o dedo do olho esquerdo até tocar os cílios. Ela não percebeu. Eu que descobri que minha filha estava cega", afirmou o pai, que pede a outros pais que perderam filhos a doação de órgãos. "É preciso mostrar para todo mundo que um gesto simples salva vidas. Já ouvi muita gente dizer: ''Vou morrer, vai tudo comigo.'' Minha filha não enxergava, gente! De repente, agora ela já está dentro daquele hospital vendo", disse, emocionado, na porta do Hospital Municipal da Piedade, na zona norte da capital fluminense, onde Lariza fica internada até amanhã. Crianças Atualmente, 1,5 mil crianças aguardam um órgão na fila de transplantes do Estado. Delas, 350 precisam de uma córnea. Ricardo Ludgero dos Santos disse que tudo o que espera agora é ver a filha desfrutar de uma vida normal. "Nem lavar o rosto com água minha filha lavava por causa da doença. Só podia lavar com soro", afirmou. "Quero que ela vá para a escola, que volte a brincar com os amigos e seja muito feliz." Amigo da família do menino João Roberto Amorim dos Santos, o gerente de laboratório Carlos André Gonçalves disse hoje que os pais dele, assassinado por dois policiais, pretendem processar o governo do Rio e pedir uma indenização. "Eles já constituíram advogado, mas não querem adiantar detalhes do pedido porque ainda não deram entrada no processo", afirmou. O Associação Estadual dos Servidores da Justiça Federal do Estado do Rio de Janeiro (Serjus-RJ), onde trabalha a mãe de João, a advogada Alessandra Amorim, organizam para amanhã uma manifestação de apoio à família. Todos os funcionários trabalharão vestidos de preto, por luto em memória do menino. João foi morto no domingo por policiais militares que confundiram o carro em que ele estava com a mãe e o irmão de 9 meses com o de bandidos que perseguiam. Os PMs estão presos, temporariamente, e podem ser expulsos da corporação.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.