Mercadante defende tema da redação, criticado por docentes

Proposta sobre imigração no Brasil no século 21 foi contemporânea e inesperada, avaliou ministro da Educação

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Por Davi Lira e Rafael Moraes Moura
Atualização:

O ministro da Educação, Aloizio Mercadante, defendeu ontem o tema escolhido para a redação do Enem sobre os movimentos de imigração para o Brasil no século 21. Conforme informou o Estado ontem, a proposta foi considerada inesperada e a complexidade pode resultar em uma queda no desempenho dos alunos, segundo professores consultados pela reportagem. "É um tema bastante contemporâneo, desafiador e não previsto. Porque as pessoas não podem só trabalhar com o previsível, é a formação abrangente que permite responder com criatividade e consistência, e a prova trazia alguns exemplos que ajudavam na reflexão", disse Mercadante a jornalistas, após participar de cerimônia no Palácio do Planalto de entrega da Ordem do Mérito Cultural 2012.A proposta para a redação - prova que tem forte impacto na nota final do exame - trazia textos de apoio com informações sobre imigrantes do Haiti, que chegam ao País pelo Acre, e da questão dos bolivianos, que têm São Paulo como principal rota de imigração no Brasil.O diretor do curso de Relações Internacionais da FMU, Manuel Furriela, lembra que a temática não é direcionada a estudantes de ensino médio. "Esse tema exige muitas questões jurídicas. Trata-se de um tema complexo até para os alunos universitários." Furriela, presidente da comissão de refugiados da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/SP), lembra que, nos últimos cincos anos, o fluxo de imigrantes angolanos no Brasil foi bem mais intenso que o de haitianos. Para a professora Lucília Helena do Carmo Garcez, especialista em redação, o assunto não é comum para os estudantes. "É um tema pouco frequente na mídia, e essa imigração ainda não representa um problema para a sociedade brasileira, o que torna difícil o aluno propor uma solução, como exige o Enem", afirma. Sobre a emigração latino-americana ao Brasil, a presença de bolivianos não representa o maior fluxo populacional no País, afirma Alberto Pfeifer, membro do Grupo de Análise da Conjuntura Internacional da USP. "Trata-se de um grupo recente. Os principais contingentes de imigrantes latinos são de uruguaios, argentinos e chilenos que vão para a Região Sul e São Paulo", diz Pfeifer."Esse tema da imigração acaba fugindo das expectativas. Antes o Enem abordava temáticas com maior impacto no cenário nacional", afirma Eclícia Pereira, do Cursinho da Poli. Para a professora de redação Fernanda Bérgamo, do Recife, o tema escolhido foi um "absurdo" e teria um potencial "excludente"."Os estudantes acreanos e paulistas podem perceber essa realidade de imigração mais facilmente. Nos demais Estados não se tem essa vivência", diz.

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