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Mercados financeiros devem continuar voláteis até Dilma indicar mudança de política

Os mercados financeiros brasileiros devem abrir com tom pessimista nesta segunda-feira após a reeleição da presidente Dilma Rousseff (PT), sob a expectativa de manutenção da atual política econômica por mais quatro anos, com dólar e juros em alta e bolsa em baixa. A volatilidade pode ser o tom dos mercados até que a presidente indique mudanças na condução econômica, sobretudo com as políticas intervencionista e fiscal pouco transparentes, segundo especialistas consultados pela Reuters que, em grande parte, mostraram-se céticos de que mudanças devem vir de fato. E isso tudo em meio a um cenário internacional sensível, com fraqueza na economia europeia e expectativas de alta dos juros dos Estados Unidos. "A volatilidade dos próximos dias virá das possíveis ações do governo, incluindo a nomeação da equipe (econômica)", disse o economista-chefe do Banco J. Safra, Carlos Kawall, que foi secretário do Tesouro Nacional no governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). "Permanecerá a incerteza, mas continuará a mesma lógica e se tiver uma sinalização mais positiva, pode reverter essa decepção dos mercados", disse. A presidente venceu seu oponente Aécio Neves (PSDB) com margem bastante apertada: 51,6 por cento dos votos válidos a 48,4 por cento. Nas semanas que antecederam o segundo turno das eleições, os mercados financeiros no Brasil viveram uma verdadeira montanha-russa, com alta volatilidade e oscilando conforme os rumores e pesquisas de intenção de voto. O dólar fechou sexta-feira negociado na casa os 2,45 reais, mas chegou a 2,50 reais, enquanto o principal índice de ações brasileiro, o Ibovespa, acumulou na semana passada queda de 6,8 por cento. Nos próximos dias, há quem acredite que a moeda norte-americana possa ir a 2,70 reais com a vitória de Dilma. Nos últimos anos, o governo tem usado manobras fiscais para tentar cumprir as metas de superávit primário --economia feita para pagamento de juros da dívida--, alimentando críticas e descrenças de agentes econômicos com a transparência das contas públicas. Em meio à inflação elevada e atividade fraca, que afetou a arrecadação, e gastos elevados, o superávit primário do setor público consolidado --governo central, Estados, municípios e estatais-- até agosto soma 10,250 bilhões de reais, ou cerca de 10 por cento da meta para 2014. "A questão fiscal é importante porque bate no grau de investimento", disse o estrategista da Fator Corretora, Paulo Gala, em referência à possibilidade de o país voltar a ter a sua classificação de crédito rebaixada para grau especulativo pelas agências de rating.

Por BRUNO FEDEROWSKI E FLAVIA BOHONE
Atualização:

DESCRENÇA

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Com fama de durona e pouco flexível, Dilma é olhada por boa parte do mercado financeiro com desconfiança quando se fala em possibilidade de mudança na condução da política econômica.

"Dilma deveria anunciar logo medidas fiscais... e cortes de despesas. Se ela mostrar tudo isso, o mercado vai dar voto de confiança", disse o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini. "Mas a probabilidade disso acontecer é muito baixa", completou.

A ameaça de rebaixamento de rating brasileiro, na avaliação do estrategista para a América Latina do banco Barclays, Bruno Rovai, poderia convencer Dilma a fazer mudanças na condução da política econômica. Fora isso, mostra-se cético.

"Ela (Dilma) não vai ter o benefício da dúvida", afirmou ele. "O prêmio de risco político vai continuar até o mercado ver sinais concretos de mudança na política econômica."

Mas diante da vitória eleitoral apertada, que sinaliza que uma grande parcela da população não está contente com a atual gestão, há quem vislumbre mudança de rumo. Uma importante fonte da atual equipe econômica disse que, pessoalmente, aposta que a presidente reeleita pode fazer alterações, mesmo que pontuais, envolvendo a política fiscal. E em breve.

"O ano de 2014 termina mais cedo e começa o de 2015", afirmou a fonte.

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Kawall também acredita que alguma mudança deve ser anunciada. "A duvida é até onde vai essa mudança. O tempo de anunciar e intensidade em que se darão as mudanças."

Outra questão que os mercados vão querer ter respondida o mais rápido possível é a nomeação da nova equipe econômica. Até lá, muita volatilidade ainda pode acontecer.

Dilma já disse que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, vai deixar o cargo a partir de janeiro, e alguns nomes têm sido ventilados, como o do ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, e do ex-secretário-executivo da Fazenda Nelson Barbosa.

Nos bastidores, o sinal é de que Alexandre Tombini continuará à frente do Banco Central.

EXTERNO

O ceticismo em relação à condução da política econômica no segundo mandato da presidente Dilma soma-se à situação da economia global, que vai influenciar os mercados locais com maior peso mais cedo ou mais tarde.

Além da economia europeia que tem dado sinais de perda de fôlego, investidores vivem sob a expectativa de elevação das taxas de juros pelo Federal Reserve, banco central norte-americano, o que pode atrair recursos hoje alocados em outros mercados, como o brasileiro.

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"O foco vai se voltar mais lá para fora, com as decisões do Fed", disse Gala, da Fator Corretora.

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