DESCRENÇA
Com fama de durona e pouco flexível, Dilma é olhada por boa parte do mercado financeiro com desconfiança quando se fala em possibilidade de mudança na condução da política econômica.
"Dilma deveria anunciar logo medidas fiscais... e cortes de despesas. Se ela mostrar tudo isso, o mercado vai dar voto de confiança", disse o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini. "Mas a probabilidade disso acontecer é muito baixa", completou.
A ameaça de rebaixamento de rating brasileiro, na avaliação do estrategista para a América Latina do banco Barclays, Bruno Rovai, poderia convencer Dilma a fazer mudanças na condução da política econômica. Fora isso, mostra-se cético.
"Ela (Dilma) não vai ter o benefício da dúvida", afirmou ele. "O prêmio de risco político vai continuar até o mercado ver sinais concretos de mudança na política econômica."
Mas diante da vitória eleitoral apertada, que sinaliza que uma grande parcela da população não está contente com a atual gestão, há quem vislumbre mudança de rumo. Uma importante fonte da atual equipe econômica disse que, pessoalmente, aposta que a presidente reeleita pode fazer alterações, mesmo que pontuais, envolvendo a política fiscal. E em breve.
"O ano de 2014 termina mais cedo e começa o de 2015", afirmou a fonte.
Kawall também acredita que alguma mudança deve ser anunciada. "A duvida é até onde vai essa mudança. O tempo de anunciar e intensidade em que se darão as mudanças."
Outra questão que os mercados vão querer ter respondida o mais rápido possível é a nomeação da nova equipe econômica. Até lá, muita volatilidade ainda pode acontecer.
Dilma já disse que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, vai deixar o cargo a partir de janeiro, e alguns nomes têm sido ventilados, como o do ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, e do ex-secretário-executivo da Fazenda Nelson Barbosa.
Nos bastidores, o sinal é de que Alexandre Tombini continuará à frente do Banco Central.
EXTERNO
O ceticismo em relação à condução da política econômica no segundo mandato da presidente Dilma soma-se à situação da economia global, que vai influenciar os mercados locais com maior peso mais cedo ou mais tarde.
Além da economia europeia que tem dado sinais de perda de fôlego, investidores vivem sob a expectativa de elevação das taxas de juros pelo Federal Reserve, banco central norte-americano, o que pode atrair recursos hoje alocados em outros mercados, como o brasileiro.
"O foco vai se voltar mais lá para fora, com as decisões do Fed", disse Gala, da Fator Corretora.