Minas abre temporada anual de coreografias

O 13.º FID começa hoje em BH e prevê a participação de 11 espetáculos até dia 1.º

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Por Helena Katz
Atualização:

Começa hoje a programação dos 11 espetáculos que encerra a 13º Fórum Internacional de Dança (FID), que há 13 anos vem transformando Belo Horizonte em um polo para a dança contemporânea. Comandado por Adriana Banana (direção artística), Carla Lobo (direção executiva) e Mônica Simões (direção de comunicação e planejamento), o FID abandonou o formato habitual de festival que exibe muitas obras em poucos dias e passou a realizar atividades o ano todo, adotando o formato de um fórum permanente. Com este tipo de atuação, seu alcance se ampliou.Hoje, o FID reúne o Território Minas, o FIDinho, o Circulando Grande BH, o Conexão Internacional, a FIDoteca, o ZAT (agora em sua sexta edição), e o Oi Cabeça FID. Quem abre a temporada de espetáculos, que se encerra no dia 1º de novembro, é o argentino Luis Garay & Cia., com Maneries. Participam da edição 2009 os brasileiros Marcelo Evelin/Demolition Inc., de Teresina, que volta depois de 10 anos, Kaiowas Grupo de Dança, de Florianópolis, Camaleão Grupo de Dança, de Belo Horizonte, Uai Q. Dança, de Uberlândia, André Masseno, do Rio de Janeiro, Marta Soares Cia. de Dança, de São Paulo, e artistas de Portugal (Rafael Álvarez), Suíça (Giles Jobin, que há nove anos não se apresenta lá), Guiana Francesa (Cie. Norma Claire) e França (Alain Buffard/Pi:es). Seu orçamento captou R$ 1 milhão e 25 mil.Em entrevista por telefone ao Estado, Adriana Banana falou sobre o conceito de "etitude" que agregou ao de SulReal, que o FID já vinha desenvolvendo nos últimos três anos. "O SulReal junta o sul, onde estamos, com o real da realeza dos países colonizadores, e com o real de nossa realidade, e é inspirado na necessidade de se construir uma epistemologia do sul, conforme o sociólogo português Boaventura de Souza Santos coloca. Como entendo que meu papel de curadora não é o de organizar um lindo sacolão de espetáculos, mas sim o de propiciar condições para que o ambiente cresça em complexidade, percebi que a proposta que vinha nos guiando desaguou agora na etitude, um conceito que indica que não existe ética separada de ação."Ela conta que hoje, ao olhar para a trajetória empreendida pelo FID desde 1996, percebe que algumas das pressuposições que a fizeram inventá-lo, com a parceria de Carla Lobo, traziam questões muito pertinentes. "Já naquela ocasião acreditava que não se devia subestimar ninguém e que o papel do FID não era o de trazer dança para se gostar ou não gostar, mas sim, o de distribuir informação em todos os tipos de espaço por onde ela continua sem circular. Intuía que os valores atados à relação centro periferia eram mentirosos, e que a questão não era a de que somente os socialmente privilegiados tinham capacidade de entender arte."E Carla Lobo, também por telefone, falou ao Estado: "O que me faz mais feliz no FID é a possibilidade de atuar em bairros tão distantes, que até mesmo quem mora aqui desconhece." O interessante é identificar que a mobilidade social em relação à dança contemporânea já está em curso em Belo Horizonte, como fruto dessa etitude do FID, e pode ser visualmente reconhecida nas plateias de todos os espetáculos que oferece.No seu escritório, o telefone não para de tocar, repetindo a pergunta se é mesmo verdadeira "essa promoção de dança". O uso desse vocabulário, geralmente associado ao comércio, já indica quem o FID agora atinge, rompendo as barreiras sociais que continuam a delimitar quem pode compor o público para a dança. Em 1996, o ingresso custava R$ 10, e há alguns anos, passou a valer R$ 2 (inteira) e R$ 1 (meia).Em setembro, o Circulando Grande BH levou duas oficinas, uma mostra de vídeo e um espetáculo do Tuca Pinheiro (He, She or It) para cinco centros culturais e para as cidades de Viçosa e Brumadinho. O Território Minas apresentará, no mercado e na feira, as ações do grupo Uai Q Dança com a obra Venda: vendo, me vendo, cada vez me vendo mais, e o trabalho do Grupo Camaleão (Continue Reto, sempre em linha reta! E vai com Deus...). Além dos dois espetáculos, exibirá também o resultado do seu programa de bolsa de pesquisa artística. Instaurado em 1998, esse programa elegeu Temporalidade em Forma de Dança como tema para 2009 e selecionou Raul Corrêa e Joana Wanner, que agora mostram o resultado de sua pesquisa em A Incerteza.O FIDinho, a versão infantil do FID, ocorre pela segunda vez, e traz o português Rafael Alvares, e a Balagandança Cia. de São Paulo. Quanto ao ZAT, mudou de formato e oferece, durante dez dias, uma ação para testar o que é transmissão de conhecimento em dança com a coreógrafa Emmanuelle Huynh (Vietnã/França), que já apresentou espetáculos no FID 2007, Kerem Gelebek (Turquia), Fanny de Chaille (França) e dez artistas brasileiros convidados por seu currículo. Para o Oi Cabeça FID a propositora foi Christine Greiner, da PUC-SP.O FID pertence ao Circuito Brasileiro de Festivais de Dança, que reúne o Festival Panorama de Dança, do Rio de Janeiro, a Bienal de Dança do Ceará e o Festival Internacional de Dança do Recife. "Nossa ação junto à Funarte é a de equipararmos os valores para este circuito ao que é distribuído para o circuito de teatro e, felizmente, já conseguimos diminuir um pouco essa diferença", informa Carla Lobo. A 7º Bienal Internacional de Dança do Ceará estreou no dia 16 e se estende até o dia 28, atingindo as cidades de Fortaleza, Juazeiro e Sobral e uma conexão com Cabo Verde, na África. O Festival Internacional de Dança do Recife começa no dia 23 e se estende até o dia 31 de outubro. O circuito se encerra no Rio de Janeiro, com o Festival Panorama de Dança, do dia 5 ao dia 15 de novembro.

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