Mortalidade infantil é a menor da história, revela Unicef

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Por AE-AP
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O número de crianças que morrem anualmente antes de completar cinco anos ficou abaixo da marca dos 10 milhões pela primeira vez desde que o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) começou a fazer o registro. "Mais crianças estão sobrevivendo hoje do que em qualquer outra época", celebrou Ann Veneman, diretora-executiva do Unicef. Novos dados analisados pelo fundo sugerem que a adoção de medidas como a suplementação de vitamina A, a instalação de redes de proteção contra mosquitos e a universalização de vacinas beneficiam cada vez mais crianças nos países pobres. Ao longo de 2005, 9,7 milhões de crianças morreram no planeta. Em 1990, a mortalidade infantil chegava perto de 13 milhões em todo o mundo. Em países como Marrocos, Vietnã e República Dominicana, a mortalidade infantil diminuiu em mais de um terço. Na África, a maior abrangência das campanhas de vacinação reduziu em 75% o número de mortes provocadas por sarampo. "Estamos muito animados com esse progresso", declarou Veneman. "Se pudermos manter o sentimento de urgência, um avanço ainda maior pode ser conseguido." Os dados do Unicef baseiam-se em pesquisas conduzidas por governos de mais de 50 países entre os anos de 2005 e 2006. Entretanto, alguns especialistas questionam a interpretação feita pelo Unicef. "Levando-se em consideração todos os meios disponíveis para garantir a sobrevivência de uma criança, não estamos sendo muito melhores no combate à mortalidade infantil do que há três décadas", opinou o doutor Christopher Murray, diretor do Instituto de Avaliação de Saúde da Universidade de Washington. Murray é o principal autor de uma pesquisa a ser publicada no jornal científico "The Lancet" que critica os métodos de coleta de informações usados pelo Unicef e pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Segundo os autores do estudo, parte do banco de dados usado pela Organização das Nações Unidas (ONU) estaria desatualizada. Além disso, as agências subordinadas à ONU, como o Unicef e a OMS, são obrigadas a usar dados fornecidos pelos governo. Isso, de acordo com eles, limitaria a credibilidade das informações. Investimentos Com base nas projeções atuais, Murray calcula que a mortalidade infantil deve cair 27% até 2015, o que representa uma queda anual de 1,3% - ritmo inferior à queda de 2,2% registrada entre 1970 e 1975. A diferença entre nosso estudo e o anúncio do Unicef pode ser somente uma questão de interpretação, mas o declínio da mortalidade infantil não está se acelerando, mas sim se tornando mais lento. " No início da semana, a OMS admitiu que o ritmo proporcional da queda de mortalidade infantil está diminuindo. Especialistas concordam com a necessidade de mais medidas para que a mortalidade infantil continue caindo. O doutor Peter Salama, diretor de saúde do Unicef, estima que a comunidade internacional precisa aplicar mais US$ 5 bilhões se quiser cumprir a meta da ONU de reduzir a mortalidade infantil em dois terços até 2015. Ainda assim, milhões de crianças podem ser salvas apenas com a mudança de comportamento dos pais, sem a necessidade de vacinas nem de remédios caros, observa David Oot, vice-presidente da organização não-governamental (ONG) Salvem as Crianças. Orientações No estado indiano de Uttar Pradesh, relata Oot, o índice de mortalidade entre bebês recém-nascidos caiu cerca de 40% apenas com a orientação dada às mães sobre como cuidar melhor de seus filhos, com conselhos simples sobre a necessidade de amamentação e como manter as crianças aquecidas. Ainda segundo Oot, os países poderiam salvar a vida de cada vez mais crianças direcionando mais recursos ao treinamento de agentes de saúde do que para a construção de hospitais. De acordo com o Unicef, o levantamento mostra que muitas mortes podem ser evitadas com facilidade, inclusive em países subdesenvolvidos. Veneman relatou que a mortalidade infantil na Etiópia caiu 40% depois que o governo treinou um exército de 30.000 agentes de saúde remunerados para tratar as pessoas em seus próprios povoados. "Ainda não estamos onde gostaríamos, mas podemos fazer a diferença implementando medidas eficazes", concluiu.

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