Muito além de ciências e geografia

Japonês, judô, kendô, ikebana, mangás: aulas especiais e atividades complementares agitam escolas da colônia

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Por Fernanda Yoneya
Atualização:

O currículo oferecido aos alunos tem as tradicionais matemática, português, ciências e geografia. E pode incluir muito mais: japonês, judô, kendô, ikebana, cerâmica e mangás. Sem falar que, no ano em que a imigração japonesa chega ao centenário, aulas especiais e atividades complementares estão sendo desenvolvidas. Enfim, a previsão é de um ano agitado nas escolas paulistanas ligadas à colônia.   Veja também: O sucesso do Kumon Ensino do idioma tem novo boom Referência em ensino na comunidade, o Centro Educacional Pioneiro, ou simplesmente Colégio Pioneiro, tem um porcentual expressivo de nikkeis em suas salas: 80% dos 750 alunos são descendentes. Em sua sede, na Vila Clementino, Zona Sul, estudam crianças do ensino infantil ao médio. E pensar que tudo começou quando a educadora Michie Akama chegou ao Brasil, em 1930, e decidiu ensinar boas maneiras, em Cafelândia, para moças que trabalhavam nas lavouras. O próximo passo de Michie foi vir para a Capital com o marido, Jiuji, e abrir uma escola de Corte e Costura. "O curso era de preparação para futuras mães, como ela própria definia", lembra a nora da professora, Elza Baba Akama, diretora do Pioneiro ao lado do marido, Antonio Akama. E Michie não parou mais. Criou um curso de língua japonesa de nível médio, naquela época muito útil para a educação dos nikkeis, e iniciou aulas para quem queria cursar o antigo Ginásio. Até fundar, em 1971, o Colégio Pioneiro. "Michie queria uma escola brasileira, que formasse cidadãos de forma integral", recorda Elza, diretora desde os primeiros dias do colégio. "Aqui, portanto, o ensino tem como base não só a disciplina, mas, acima de tudo, o respeito ao próximo." Gigante Na Vila Formosa, Zona Leste, funciona outra escola com raízes japonesas: o Colégio Brasília. Fundado há 34 anos pela nissei Ayako Kuba Sakamoto, de 69, o Brasília (o nome homenageia Juscelino Kubitschek) é um gigante com três prédios e 1.200 estudantes, nos ensinos infantil, fundamental e médio. Sem contar a faculdade. "Com a faculdade, criada em 1999, são cerca de 2 mil alunos." O começo, porém, foi bem mais modesto. Em 1972, Ayako adaptou em sua casa, na Vila Formosa, algumas salas de aula. Aos poucos, foi comprando terrenos e imóveis vizinhos e adequando as instalações, até construir a sede atual. Desde 1995, o colégio recebe intercambistas da escola-irmã Okinawa Shogaku, em Naha. Tanto alunos quanto professores. As irmãs Eduarda Namie, de 7 anos, e Lyva Mei Kinjo, de 11, vieram de Okinawa e falam pouco português. Apesar disso, parecem bem integradas com colegas de classe e professores. Quando Lyva não entende alguma palavra, por exemplo, recorre a uma intérprete especial - sua amiguinha Natália Miki Noguchi, que morou no Japão com os pais dekasseguis. Para comemorar o centenário, o Brasília vem programando uma série de atividades. Os estudantes nikkeis estão reunindo objetos e fotos de família para compor um pequeno museu na escola, previsto para ser aberto em maio. O colégio ainda vai organizar um visita ao centro histórico da Capital (terminando na Liberdade), cursos de culinária, mangá e ikebana. Em junho, um ato ecumênico no ginásio vai marcar o centenário da imigração.

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