PUBLICIDADE

Nº de mortes em Petrópolis-RJ chega a 27

Por MARCELO GOMES
Atualização:

Por dois dias, Davi e José Ventura Fernandes foram incansáveis. Ignoraram os alertas de perigo dos bombeiros e procuraram a família do irmão deles, Pedro, de 45. Ele desapareceu na noite de domingo, com a mulher Cristina, de 42 anos, e os filhos, Nicolas, de 9, e Letícia, de 6, quando a casa em que viviam, na Vila São Joaquim, em Petrópolis (RJ), veio abaixo. No início da tarde desta terça-feira, José encontrou os sobrinhos. As crianças estavam presas a galhos num rio que fica a um quilômetro da residência da família. Ao longo do dia, outros nove corpos foram localizados - desde domingo, são 27 mortos.Davi, de 48 anos, e José, de 42, usaram enxadas para revirar a lama que recobria as casas, numa área pobre do bairro Quitandinha. No fim da manhã, José e outros moradores decidiram procurar na parte baixa, do outro lado da rodovia. Ele entrou no córrego e avistou o corpo de três crianças - um menino de cerca de 13 anos, Nicolas e Letícia. Usou a enxada para liberá-los dos galhos de árvore. Emocionado, pediu para que não fizessem fotos dos sobrinhos."Meu irmão sofreu muito para construir a casinha dele. Carregou na mão as pedras e os tijolos, morro acima. Ele se preocupou em fazer a contenção de uma encosta próxima e fez os pilares da casa direitinho, mas não adiantou. Somos nascidos em Santa Maria Madalena (no interior do Estado) e viemos para Petrópolis há mais de 20 anos para conseguir uma vida melhor", contou Davi, de 48 anos.Durante todo o dia, 250 bombeiros, além de moradores e voluntários procuraram vítimas dos deslizamentos. O terreno enlameado dificultava o trabalho. "Até cães farejadores afundam na lama", contou o secretário estadual de Defesa Civil, coronel Sérgio Simões. A estimativa era de que entre 10 e 15 pessoas estivessem soterradas pela avalanche de lama que destruiu pelo menos três casas na Vila São Joaquim. Dessas, sete eram crianças da mesma família, com idades entre 2 e 8 anos.O secretário nacional de Defesa Civil, Humberto Viana, que acompanhou o trabalho de resgate, disse que as prefeituras precisam começar a impedir que áreas de risco sejam ocupadas. "Temos de conviver com tragédias climáticas e desastres naturais. Mas precisamos estar mais preparados para enfrentá-los. A ação ''na ponta'', isto é, nas prefeituras, precisa melhorar no sentido de evitar novas ocupações irregulares", afirmou.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.