'Não aceitaria ser nomeado reitor sem o voto da maioria', diz 1º colocado na PUC
Vencedor da eleição e atual reitor da universidade, professor Dirceu de Mello recebeu a nomeação da 3ª colocada com surpresa
Entrevista com
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15 de novembro de 2012 | 02h08
Atual reitor da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo, mas preterido pelo cardeal d. Odilo Scherer para continuar no cargo, o professor Dirceu de Mello afirma que não aceitaria comandar a instituição caso não fosse vontade da maioria da instituição. Na votação de alunos, professores e funcionários, Mello foi o primeiro, com 1,7 mil votos ponderados a mais do que a professora Anna Cintra, a terceira colocada, que foi nomeada reitora.
Ao 81 anos, com mais de 50 de PUC, o ex-presidente do Tribunal de Justiça se diz surpreso. "Fiquei constrangido, triste, mas o cardeal é quem decide."
Como recebeu a escolha?
Com muita surpresa, fiquei desgostoso. É a tradição, embora o estatuto permita que o cardeal escolha um dos três. Ademais, nós candidatos assinamos um documento em que todos diziam que só aceitariam a nomeação se fossem o primeiro.
Sentiu-se traído?
Isso (de aceitar sem ter sido o primeiro na eleição) é uma deliberação pessoal, mas assinamos o compromisso em assembleia com os alunos e tínhamos um compromisso escrito. Se eu não fosse o primeiro e fosse nomeado não aceitaria, porque se eu não tenho maioria de uma coletividade não me sinto à vontade de dirigir a instituição.
O senhor falou com o cardeal sobre os motivos da escolha?
Ele só mandou uma carta, respeitosa, cumprimentando-me pela gestão, mas não tocou no assunto. Eu também não tomei a iniciativa. Uma conversa a essa altura não seria confortável.
Houve alguma briga? O senhor teve alguma informação de que sua gestão desagradava?
Essa é uma das razões da minha surpresa. O relacionamento sempre foi bom. Encontrei a universidade em uma situação financeira calamitosa. Não está ainda totalmente recuperada, mas à vista de antes, a situação financeira é de razoável conforto.
Além desse avanço financeiro, qual foi o maior destaque na sua gestão na área educacional?
Além do financeiro, houve vários avanços no campo educacional, e na carta o próprio cardeal destaca isso. Mais recentemente, fizemos um convênio com a (universidade francesa) Sorbonne, o primeiro no Brasil. Mas o cardeal entendeu que tinha de nomear outro. Respeito, mas ficar aborrecido é direito meu.
Declaração recente de um bispo colocou polêmica na relação da Igreja com a PUC. Episódio parecido se repetiu na PUC do Paraná. A escolha pode ter relação com valores da Igreja?
Olha, eu também sou católico, fui criado na religião. Esse obstáculo também não existe.
Como é sua relação com a nova reitora?
Boa, apesar de ela ter ficado bravinha nos debates para a reitoria. Nem sempre teve aquele fair play. Mas todos os candidatos tinham condições de assumir.
Francisco Serralvo, segundo colocado, disse acreditar que seria insubordinação caso ela não aceitasse. Concorda?
Meu pensamento é diferente. O dono do meu comportamento sou eu. Desde que eu tomo uma decisão, relativo a algo de aspecto moral, entendo que é dogma, obrigação. Se me constrangesse assinar o compromisso, teria dito que não era meu pensamento.
Como vê o movimento dos alunos de repudiar a escolha?
Nós nos orgulhamos de ter democracia na universidade. Tanto é que dessa consulta participaram alunos, professores e funcionários. Foi outro cardeal, o d. Paulo Evaristo Arns, que introduziu como regra a lista tríplice. A regra veio de parte da Igreja, embora saiba da prerrogativa do cardeal.
O senhor foi até aplaudido pelos alunos nessa quarta.
É claro que me sensibiliza, é um conforto, mas fico na minha posição. Fiquei constrangido, triste, mas o cardeal fez sua escolha, usou a regra. E vou cumprir o meu mandato até o último dia.
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