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Negociações na Bolívia são suspensas até segunda-feira

Impasse na autonomia de regiões e no repasse do dinheiro do petróleo emperram acordo entre Evo e oposição

Por Marcia Carmo
Atualização:

Governo e oposição bolivianos anunciaram nesta quinta-feira, 25, a suspensão do diálogo para tentar colocar fim à crise política no país até a próxima segunda-feira, quando o presidente Evo Morales volta a participar das discussões na cidade de Cochabamba. Mais cedo, Morales afirmou que esperava um acordo ainda nesta quinta, quando retornou de Nova York, onde participou da Assembléia Geral das Nações Unidas. Veja também:Evo Morales rejeita 'autonomia plena' a região opositoras Oposição boliviana pede mudanças na Constituição para acordo Comissão investigará 'massacre em Pando', diz Evo Morales Bolívia pode rachar, mas ninguém se beneficiaria, diz analista Bolívia tem histórico de golpes e crises  Entenda os protestos da oposição na Bolívia  Morales participou das discussões em Cochabamba nesta quinta, mas o impasse continua, como reconheceram autoridades do governo e da oposição, em uma entrevista coletiva, após a reunião. Os principais pontos discutidos nesta quinta foram o repasse de verbas do setor petroleiro para os Estados e a autonomia política, financeira e administrativa dos Departamentos em relação ao governo central. A nova Constituição, aprovada no ano passado, sem a presença da oposição, não foi discutida - o governo quer definir, até dia 15 de outubro, a data do referendo que vai ratificá-la ou anulá-la. Logo após a reunião, o ministro do Desenvolvimento Agrário, Carlos Romero, porta-voz do governo neste diálogo, explicou como estão as negociações. "Estamos avançando, mas ainda faltam alguns detalhes. No caso dos impostos petroleiros, estamos analisando diferentes formas de cálculo (para a distribuição dos recursos). E no caso das autonomias, ainda precisamos definir as responsabilidades do Estado e dos governos estaduais". Por sua vez, o porta-voz da oposição, o prefeito (governador) de Tarija, Mario Cossío, disse perceber nos dois lados - "inclusive no presidente" - disposição para o entendimento. "Mas nós, governadores (da oposição), só vamos assinar um documento quando forem concluídas as discussões sobre o IDH (Imposto Direto sobre Hidrocarbonetos) e as autonomias", disse. Constituição Cossío afirmou que também espera um debate sobre a nova Carta Magna. "A Constituição é um assunto central e não podemos deixá-lo de lado. Queremos uma Constituição para todos os bolivianos", afirmou. Os opositores de Moraeles criticam a nova Carta - apovada ano passado sem a presença da oposição - dizendo que ela "limita-se" aos interesses dos indígenas. Na quarta-feira, parlamentares da oposição afirmaram que se não for feita a revisão de pelo menos nove artigos da Contituição, o projeto do governo para convocar o referendo não será aprovado no Senado. A atitude levou o vice-presidente do país, Alvaro García Linera, a classificar a ameaça como "chacota política". "O governo pode fazer correções pontuais, mas é irresponsável a intenção de incluir outros temas (na Carta Magna)". Movimentos sociais Antes da decisão de suspender o diálogo até segunda-feira, líderes de diferentes movimentos sociais afirmaram que voltariam a marchar para o Departamento de Santa Cruz se o acordo não fosse assinado até esta sexta-feira. Na terça, partidários de Morales anunciaram uma trégua nos protestos no Departamento, um dos bastiões da oposição.   "O diálogo parou porque a oposição quer condicioná-lo a poder rediscutir a Constituição. Não vamos permitir modificações na Carta Magna. Se a oposição não assinar o acordo, vamos retomar sábado as medidas de pressão", disse à BBC Brasil, por telefone, o líder indígena de Cochabamba, Román Loayza, ligado a Morales. A expectativa agora é que, com a suspensão temporária nas negociações, os movimentos sociais reúnam-se no fim de semana para definir os próximos passos. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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