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Dicas e histórias de vida da Flórida

Negócio da China

Brasileiros em Miami se preparam para a invasão chinesa no mercado imobiliário

Por Chris Delboni
Atualização:

Com o dólar em alta, muitos brasileiros estão pensando duas vezes antes de pegar o avião para Miami e, se vêm, pensam dez vezes antes de comprar uma bolsa de marca, um novo iPhone ou iPad, que hoje custará quatro vezes mais em reais.

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Muitos também que compravam imóveis pelo telefone como investimento ou na planta para receberem este ano e no próximo já estão colocando à venda, com lucro, evitando pagar as últimas parcelas.

Mas apesar da crise econômica no Brasil ter diminuído o consumo, o turismo e a compra de imóveis de brasileiros em Miami, Flórida continua sendo destino número 1 de estrangeiros nos Estados Unidos, até agora este ano com 21% de todas as vendas imobiliárias no país para imigrantes.Nova York e Washington, D.C., por exemplo, têm 3% desse mercado, em volume de vendas.

E os chineses são a aposta da vez. "De uns anos para cá, a China começou a aparecer no radar dos Estados Unidos", diz Daniel Ickowicz, dono da imobiliária Elite International Realty, que está confiante nesse novo mercado. 

Corretores de imóveis brasileiros - Yara Gouveia (esq.), Uiane Lim (dir.), de descendência asiática, e Daniel Ickowicz, dono da Elite International Realty, se preparam para receber clientes chineses em Miami Foto: Chris Delboni|Estadão

Nos Estados Unidos, nos primeiros meses de 2015, os chineses já ultrapassaram o Canadá, que cinco anos atrás dominava com 23%. Já este ano, os canadenses são responsáveis por 14% das transações imobiliárias no país, enquanto os chineses, que em 2010 tinham 9% do mercado nacional norte-americano, hoje estão com 16%.

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Já investiram mais de US$ 28 bilhões este ano, e Miami está se tornando destino favorito desse grupo. 

Os númerosainda são reduzidos em comparação à Venezuela (16% do mercado internacional em 2014), Argentina (12%) e Brasil (11%).Os chineses representam 2% desse mercado, mas atenção: um volume que dobrou de 2012 para 2013, se manteve no ano passado e a expectativa é que aumente.

No fim de 2014, o grupo chinês American Da Tang comprou um terreno no coração financeiro da Brickell por US$ 74,7 milhões e acaba de realizar mais uma compra de US$ 38,5 milhões para construção de um hotel de luxo em Miami Beach.

"Miami realmente não para de crescer e a gente não consegue prever onde e se vai parar.Brasileiros não afetaram o mercado de Miami tanto quanto acham", diz Yara Gouveia, corretora da Elite, que há anos vende imóveis milionários para brasileiros e agora está aprendendo mandarim para atender novos clientes potenciais.    E há fundamento. De acordo com nova pesquisa do Hurun Research Institute divulgada este mês, pela primeira vez, a China ultrapassou os Estados Unidos com o maior numero de bilionários no mundo: 596. 

De olho nessas fortunas, Daniel não hesitou quando foi procurado por Celso Raimundo, presidente do IBREP - Instituto Brasileiro de Educação Profissional -, que oferece, entre muitos outros cursos online, o Curso Técnico em Transações Imobiliárias (TTI) do Brasil, para tirar licença, ou o registro de corretor, no Creci - Conselho Regional de Corretores de Imóveis.

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Há anos, Raimundo sonha em criar um curso sobre o setor imobiliário de Miami para corretores no Brasil, mas nunca conseguiu um parceiro local, até agora.

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Daniel não só adorou a ideia da parceria como apostou numa visão ainda mais ambiciosa. O curso será publicado primeiro em português, com data marcada de lançamento do livro até junho do ano que vem, em seguida em espanhol e até dezembro de 2017 em mandarim.

"Vamos criar um curso de como vender Miami para o corretor chinês, ninguém está fazendo isso", diz. "Vamos formar corretores na China que saibam vender Miami e vão indicar cliente. Queremos formar 120 corretores, parceiros, por ano, e em cinco anos a gente quer ter 600 corretores internacionais".

O livro terá nove capítulos, desde jurídico e tributário à situação imigratória, financiamento e relocação, entre outros tópicos.

"O corretor, quando acabar o curso, vai falar: 'já sei vender Miami'", diz Daniel, que já está começando a plantar para colher em dois anos.

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"Os chineses estão chegando!", brinca, em referência à famosa frase na época da independência dos EUA: "Os ingleses estão chegando! Os ingleses estão chegando". 

E quem está chegando primeiro são os jovens.Os chineses estão mandando os filhos para irem se ambientando.Daniel disse que, coincidentemente, nos últimos dias, duas casas para investimento que vendeu para brasileiros foram procuradas por alunos chineses. São quatro quartos cada, quatro alunos - aluguel na faixa entre US$ 3.000 - US$ 4.000 cada.

Mas Peter Zalewski, um dos mais respeitados analistas do mercado imobiliário aqui, diz que é importante ter cautela e que a "invasão" chinesa não chega perto do que foi o mercado brasileiro. Ele lembra que a ambientação cultural dos brasileiros é natural em Miami. Já, para os chineses, existem obstáculos reais, como o idioma e o choque cultural.

Zalewski compara o mercado imobiliário ao automobilístico. "Em 2011, [os brasileiros] podiam comprar um Bentley, mas hoje ainda compram uma BMW. Os brasileiros vão continuar comprando, não vão desaparecer", diz. "Talvez não seja mais o momento do samba, mas com certeza a próxima musica virá. China tem potencial, mas não sabemos se alguém vai tirá-la para dançar".

Mas, para Daniel, o importante é dançar conforme a música, e em termos imobiliários, conforme o ciclo.

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"O poder de recuperação que existe em Miami é uma coisa que nenhuma outra cidade do mundo tem", diz ele."Em 2008, os pessimistas davam de 10 a 15 anos para Miami se recuperar. Em dois anos se recuperou, em cinco estava no auge e, no sexto, já estamos estabilizando de novo, os ciclos são curtos e os picos, muito rápidos".

Twitter: chrisdelboni

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