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Newark

Brasileiros em Newark mantêm otimismo com crise nos EUA.

Por Rafael Gomez
Atualização:

A vinte minutos de trem da opulência de Manhattan, membros da numerosa comunidade brasileira da região de Nova York refletem sobre o desaquecimento da economia dos Estados Unidos e seus potenciais nefastos efeitos sobre a concretização do sonho americano. Não parecem muito preocupados. "O pessoal vai embora porque não tem trabalho... mas ainda acho que é uma fase", diz uma das alunas de um curso de fotografia na ONG Mantena Ajuda, que presta assistência a brasucas em Newark. "Também acho", responde outra. "Eu ainda não estou sentindo na pele essa recessão", comenta uma terceira, que recebe o apoio do namorado, sentado ao seu lado. "Eu acho que quem conseguir passar por essa fase e ficar nos Estados Unidos vai se dar muito bem", diz ele. O aumento do número de brasileiros voltando para o Brasil, o fechamento de lojas voltadas para a comunidade e outros sinais de que a crise econômica (e a intensificação da fiscalização contra os imigrantes) está assustando os Estados Unidos são pouco evidentes em um passeio pela Ferry Street, uma das ruas mais movimentadas em Newark - cidade que concentra boa parte dos brasileiros na região de Nova York. Num domingo à tarde, o que vi foi muita agitação, lojas e restaurantes brasileiros com mesas tomadas, muitos compatriotas nas ruas. Trata-se de um quadro que em nada lembra o descrito por uma reportagem publicada pelo jornal The New York Times em 4 de dezembro de 2007, intitulada "Brasileiros estão desistindo de seu sonho americano". Mas os problemas são inegáveis, mesmo aqui. Conversei com uma brasileira que trabalha com envio de dinheiro para o Brasil e ela confirmou que as remessas caíram bastante nos últimos meses. As filas em algumas dessas lojas desapareceram. "Todo dia a gente fica sabendo de alguém que está voltando para o Brasil. Recebemos mais notícias das pessoas que estão indo do que das que estão chegando agora", diz Solange Paizante, coordenadora da Mantena Ajuda. A volta A baiana Marinalva Santos é um desses brasileiros voltando. Depois de 11 anos nos Estados Unidos, ela diz que está na hora de priorizar outras coisas, como sua saúde, e está de mudança de Newark para uma cidade mais tranqüila, no Espírito Santo. Ela reconhece que está difícil para muitos brasileiros que vêm para cá trabalhar, especialmente no setor da construção civil. Também há a perseguição da imigração. "As pessoas estão vivendo apavoradas, não têm sossego para trabalhar, o sistema econômico do país está numa depressão muito grande", explica. Mas ela deixa claro que não é por nenhum desses dois motivos que decidiu deixar os Estados Unidos, mas sim porque ela está cansada, quer mudar seu estilo de vida e aproveitar sua casa própria em seu país, não ser mais estrangeira. Muitos, ao contrário de Marinalva, estão ficando, e pretendem ficar por muito tempo. Um deles é Roger Correa, que se formou em economia em São Paulo e hoje trabalha como consultor financeiro de uma empresa de seguros nos Estados Unidos. Ele acha que a ameaça de recessão americana pode ser encarada de duas formas pelos imigrantes: se a pessoa já está cansada de viver nos Estados Unidos e tem vontade de voltar à "terrinha", como Marinalva, esta é a hora perfeita. Mas, "para os brasileiros que ainda têm o sonho americano, que querem investir um pouquinho mais, este é o momento de realmente se retraírem e segurarem um pouco, porque o país é muito forte, é a economia mais forte do planeta, com crise ou sem crise, e eventualmente vai passar por um período de ajuste, e as coisas vão se normalizar." Pergunto a Roger como explica o fato de, nas ruas de Newark, aparentemente não notarmos sinais dessa crise. Segundo o economista, o que existe na cidade é diferente do que existe em locais onde a comunidade brasileira está mais isolada. Aqui há também muitos, muitos portugueses e hispânicos, especialmente equatorianos. Se os brasileiros vão embora, os estabelecimentos comerciais ainda têm a segurança de contar com outros grupos. "A recessão chegou a esta comunidade também, mas existem recursos maiores do que numa comunidade pequena", diz ele. Pela calçada da Ferry Street, encontro uma caixa com exemplares do jornal National - o Jornal do Brasileiro Vencedor, publicado em Nova Jersey. O editorial ressalta que "não poderia haver instante mais negro, tenebroso e obscuro" do que o vivido pela economia americana no momento. Por outro lado, resume o otimismo de Roger e dos estudantes que encontrei. "Comprar a passagem de volta pode não ser a melhor saída neste instante, em que a expectativa de um futuro melhor - muito próximo - vai acontecer. Essa é a melhor expectativa que podemos ter ficando na América." BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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