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No limite, Petrobras mantém número elevado de paradas em refinarias

Por RODRIGO VIGA GAIER
Atualização:

A Petrobras terá que manter um número elevado de paradas em suas refinarias no primeiro semestre deste ano, 21 ao todo, em um momento de riscos elevados na atividade devido ao uso de quase toda a capacidade de produção de derivados, na visão de especialistas. Para evitar maiores importações, que impactam negativamente nos resultados financeiros da empresa, a Petrobras tem usado cerca de 97 por cento de sua capacidade de produção nas refinarias na busca por atender ao consumo interno de combustíveis. Processando a pleno vapor, a estatal planeja 21 paradas para manutenção na primeira metade do ano, contra 22 registradas no mesmo período do ano passado, segundo programação enviada pela empresa à Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Das 21 paradas, segundo planejamento obtido pela Reuters, em 13 delas a Petrobras prevê a paralisação total de uma das unidades de processamento que integram as refinarias, contra 16 paradas do gênero na primeira metade de 2013, informou a Petrobras à autarquia que monitora o abastecimento do mercado brasileiro. As manutenções são rotineiras e não acarretam parada total de processamento de petróleo nas refinarias, explicou a ANP em nota à Reuters. No entanto, podem levar a empresa a aumentar temporariamente a importação de derivados para atender a crescente demanda interna. "Você não para toda refinaria em todos os anos. Num ano, para o craqueamento de uma refinaria, no outro ano de outra; num ano para uma destilação... É feita uma composição e um balanceamento para que não se perca a produção de derivados num volume significativo", disse à Reuters o diretor da ANP Waldyr Barroso. A Petrobras informou recentemente em nota ao mercado que o Fator de Utilização do parque de refino (FUT) foi de 97,4 por cento de janeiro a novembro de 2013. "Esses dados mostram uma forte utilização das refinarias não porque a Petrobras gostaria que fosse assim, mas é por necessidade financeira. É a única chance para diminuir o gasto com importação", afirmou o especialista do setor de petróleo Adriano Pires, sócio-diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE). RISCOS A utilização de quase toda sua capacidade de refino gera riscos de acidentes, que paralisam as refinaria por mais tempo, elevando eventualmente a necessidade de importações de maiores volumes de gasolina e diesel, afirmam especialistas. "Refino é uma atividade industrial como outra qualquer. Quanto mais usa, maior é o risco de operação", disse Pires. "Quando você usa a refinaria a todo vapor, tem que ficar muito atento", destacou ele, acrescentando que a pior parada é a gerada por acidentes, uma vez que o tempo para a retomada das atividades é maior. No ano passado, foram registrados dois acidentes na Refinaria de Manaus (Reman), além do incêndio na Refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar), no Paraná, ao final do ano. No início de 2014, houve um outro acidente na Refinaria de Duque de Caxias (Reduc), no Rio de Janeiro. "Para operar acima de 2 milhões de barris (dia) como acontece hoje, tem que estar no limite. Hoje ninguém opera nesse nível da Petrobras", disse um outro especialista, na condição de anonimato. "Como qualquer máquina no limite, ela pode parar de forma não programada, o que é ruim para a empresa. Pode provocar dano a equipamentos e a pessoas", adicionou. Para este segundo especialista, a manutenção desse patamar de 97 por cento não é saudável e nem sustentável por muito tempo, podendo ser um "tiro no pé". "Isso não se sustenta, e se uma refinaria para de repente, a retomada é mais lenta e a importação de derivados acaba subindo ainda mais", completou. ANP NÃO VÊ RELAÇÃO COM ACIDENTES Na última sexta-feira, representantes da Petrobras estiveram na sede da ANP explicando os últimos acidentes que ocorreram nas unidades de refino da estatal. Com base em explicações e informações dadas pela Petrobras, a ANP entende que não há correlação entre os acidentes nas unidades e o elevado nível de utilização das refinarias da estatal. "A gente avalia que nesses incidentes não há correlação nenhuma com o fator de utilização", afirmou Barroso, da ANP. "Na Reman, um acidente foi com a unidade parada e outro numa partida de uma unidade vindo de manutenção. Na Repar, o acidente foi em um tubo não apropriado para o local. Na Reduc, houve uma baixa pressão no sistema de selagem, mas a investigação ainda não foi finalizada", explicou ele. Procurada, a Petrobras não comentou o assunto. No entanto, em nota divulgada no início de janeiro, a estatal afirmou que o estabelecimento da Carga de Referência em uma unidade de refino é resultado de uma série de estudos que consideram a engenharia de processo, as emissões atmosféricas e de efluentes hídricos, bem como a economicidade da refinaria. "As cargas de referência de todas as refinarias estão aprovadas e autorizadas pelos órgãos ambientais estaduais e pela ANP, instâncias que verificam e atestam o atendimento dos limites de projeto dos equipamentos e os requisitos de segurança, meio ambiente e qualidade dos produtos", disse a estatal na nota.

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