
10 de dezembro de 2011 | 03h12
O projeto cresceu, reintegrou alunos, apresentou a eles o maracatu e hoje reúne cerca de 600 jovens, estudantes ou não, todos os sábados. Agora, enquanto a Alves Cruz faz parte de um piloto de ensino integral que servirá de exemplo para outras escolas, Ângela, aos 24 anos, quer deixar de ser cozinheira e trabalhar como produtora cultural, além de tocar e repassar o som que aprendeu. Assim, do encontro entre jovens e arte, o futuro ganhou novos pulsos. E mais do que benefícios pessoais, ele promove mudanças nos locais onde ocorre.
Pensando nisso, a pedagoga Cleidy Nicodemos Silva, do Observatório Jovem da Universidade Federal Fluminense (UFF), está desenvolvendo uma pesquisa sobre o impacto dessa relação, sobretudo nas classes populares. Para ela, espaços de convivência cultural são importantes para a socialização. "Eles se encontram, dialogam, e isso contribui no entendimento da existência e do estar no mundo."
A arte-educadora Ana Mae Barbosa, professora da Escola de Comunicação e Artes da USP e da Universidade Anhembi Morumbi, concorda que o envolvimento artístico amplia a visão de mundo dos jovens. Eles passam a enxergar outros grupos e valores, além dos próprios, tornando-se capazes de dialogar e ter uma influência positiva sobre a família, escola e comunidade.
É o que aconteceu com Tiagkauê, de 23 anos, na aldeia indígena Comboios, em Aracruz, Espírito Santo. Neste ano, ele lançou a primeira obra, Guarinin e o Livro de Tupã, um romance indígena sob o seu olhar jovem e contemporâneo. Além disso, cantando em tupi, ajuda a recuperar a identidade da vizinhança e das aldeias ao redor. Mas a intenção é também superar essas barreiras e levar a realidade atual dos índios a quem só tem uma visão histórica do que eles são.
A consciência e o consumo crítico do que acontece à sua volta, aliás, são características comuns aos jovens que produzem cultura. Mas não só. As experiências artísticas também dão ferramentas para que eles entrem mais maduros na fase adulta, como a história de Frederico Félix, de 18 anos, bem ilustra.
Aos 9 anos, vendo os desenhos em 3x4 do pai, o menino se interessou pelas ilustrações. Aos 12, já assistia a uma pós-graduação em Desenvolvimento de Jogos em 3D sem nem ter saído do ensino fundamental. Dois anos depois, começou a fazer projetos internacionais. Agora, no primeiro ano da faculdade, já está efetivado no estágio. "Tudo isso me ajudou a ter uma mente mais aberta, saber como as coisas funcionam e aprender a trabalhar em grupo."
A interação precoce com as artes pode antecipar não só o sucesso profissional mas também sua influência sobre outros jovens, seja pelo exemplo ou pelo que ele tem a dizer. "Eu sempre quis me comunicar e produzir coisas que ressoem em outras pessoas", conta Gustavo Martins, de 28 anos. Em 1993, ele entrou para a edição brasileira do Guinness Book como o mais jovem escritor do ano. Hoje, o jovem veterano é também compositor e dirige o programa de humor Furo MTV. E não se imagina trabalhando com outra coisa. Mais uma mostra de que a interação dos jovens com as artes se transforma numa relação permanente e saudável.
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