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Noves fora

Por Ricardo Freire
Atualização:

Ainda não mexi na agenda do meu celular. Estou esperando que três pessoas diferentes indiquem o mesmo aplicativo e me garantam não ter dado nenhum chabu na operação de acrescentar um novo 9 a todos os números locais de celular.O problema - ou a solução - é que quase ninguém que eu conheço tem falado no assunto. Estou perto de acreditar que muita gente tenha aproveitado esse perrengue para aposentar de vez a telefonia como meio de comunicação. (De minha parte, eu ficaria feliz se toda interlocução pudesse ser resolvida por mensagens diretas no Twitter.)Essa mudança nos números é o verdadeiro bug do milênio. Um bug para o qual nenhuma operadora se preparou. Num mundo civilizado, essa adaptação seria fluida e automática, tipo a mudança do relógio no começo e no fim do horário de verão. Do jeito que foi feito, porém, é como se a Anatel e as teles dissessem em coro: 'Se vira, macacada!'Antigamente, quando não havia nem celulares nem agendas eletrônicas, ganhar mais um dígito no telefone era sinal de status. Indicava que você morava numa cidade maior e mais adiantada do que as outras.Você sabia que uma cidade era pequena quando os telefones tinham só cinco dígitos. (Não que naquela época se falasse 'dígito'. Até porque os telefones eram de disco...)Só no Rio de Janeiro os telefones tinham sete números. São Paulo, que eu me lembre, era uma mixórdia: houve um momento em que conviviam telefones de sete, seis e cinco algarismos. (Quer dizer: assim me lembro. Mas minha memória, além de enciclopédica, é criativa).Quando os telefones ganhavam um dígito a mais, o único problema era redecorar os números dos amigos. Aquele reles numerinho na frente causava total desconcentração - e a gente se via forçado a confirmar o número na agenda.Hoje a tragédia é que ninguém sabe mais o telefone de ninguém. E quando aparece aquela maçaroca não identificada de nove números no visor do celular, pode ser tanto a sua querida mãe quanto o mais insuportável dos telemarketings.E vamos combinar uma coisa: prefixo de cinco números não dá. O negócio é padronizar no formato 3-3-3:987-654-321. Desligo! Ricardo é turista profissional

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