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O papel e seu gênio

Colunista comenta as críticas dos ambientalistas à obsessão dos norte-americanos pelo papel higiênico.

Por Ivan Lessa
Atualização:

O presidente Barack Obama, enfileirando milagre após milagre, andou marcando bobeira. Segundo os ambientalistas do resto do mundo. Vai parar de salvar o Iraque, vai dar mais uma salvada legal no Afeganistão. Vai tirar dos pobres e dar para os ricos. Ou vice-versa. Uma coisa assim. Esqueceu-se no entanto do meio-ambiente. De sua preservação. Os americanos apertam o cinto. Segundo porta-vozes presidenciais. Segundo jornais americanos. Muito justo e merecedor de aplausos. Só tem uma coisinha: E o papel higiênico? Os americanos são criticados com justo rigor por sua obsessão com carros caindo de bêbados de tanto ingerir gasolina. Por esta praga universal que se convencionou chamar de "fast food", uma comida rápida em nos fazer mal. Criticados por se recusarem a participar dos esforços conjuntos do resto do planeta empenhado em salvar o que dele resta. Agora mesmo, logo depois do primeiro grande (longo) discurso à nação que elegeu Obama, ávidos industriais mostraram-se dispostos a continuar perpetuando a afronta dos americanos ao resto da humanidade. Sabe-se que, além de vastos hambúrgueres, vastos tudo que for possível, nossos irmãos do norte são doidos por um papel higiênico bem, mas bem macio mesmo. Há anos que os verdes denunciam a irresponsável predileção, que Obama nem de leve abordou. Os verdes apontam para o povão norte-americano chegado a um papel higiênico de mais de uma folha (macia), a chamada multi-ply , e, além do mais, acolchoada, ou seja, quilted . Os verdes apontam para o fato de que esse tipo de papel higiênico ultra-macio e suavemente espesso é mais perigoso para o meio-ambiente do que uma frota inteira de Hummers. Assim falou, com expressão dura e palavras e graves, Allen Hershkowitz, um dos principais cientistas pertencentes ao Conselho de Defesa dos Recursos Naturais: "As futuras gerações irão julgar a maneira de nossa produção de papel higiênico como um dos grandes excessos de nossa era. Em termos de poluição contribuindo para o aquecimento global, o papel higiênico derivado de madeira virgem é mais nocivo do que dirigir frotas e mais frotas de Hummers." Hummer nós sabemos o que é. Aquele carrão de luxo parrudo e vistoso. Do papel higiênico também temos uma boa idéia. O papel higiênico politicamente correto, saudável ao bem-estar comum e à natureza, nós o conhecemos muito bem: simples, discreto, despretensioso, sem frescuras. É vapt e vupt. Não mais que alguns segundos e estamos conversados. Além de em paz com nossos irmãos. A organização Greenpeace já publicou um guia para o bom papel higiênico. Aquele que não fere a face já mutilada de nosso planeta e com condições de maciez para ninguém botar defeito. Consultem-no. Bem paginado, bom papel. Na batalha pela preservação de nosso planeta, façamos um belo - claro - papel. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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