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O PIB da sucata

A economia brasileira está virando sucata, com seu potencial encolhendo por falta de investimento em máquinas, equipamentos, construções, formação de mão de obra e tecnologia. A recessão iniciada em 2014 continuou em 2015, prossegue neste ano e ninguém pode dizer com segurança quando virá a recuperação. O Produto Interno Bruto (PIB) diminuiu 3,8% no ano passado, no pior desempenho desde a contração de 4,3% em 1990, quando o presidente Fernando Collor sequestrou a poupança. Se confirmadas as previsões para 2016, o recuo será o maior desde o biênio 1930-1931, na fase mais dura da crise detonada em 1929 com a quebra da Bolsa de Nova York. Mas por trás do número geral do ano passado – o recuo de 3,8% – há detalhes mais feios e mais preocupantes. Esses pormenores deixam mais claras a devastação dos últimos anos e as dificuldades para ganhar impulso e crescer de forma sustentável.

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Por Redação
Atualização:

A indústria de transformação foi o segmento com pior desempenho no ano passado, produzindo 9,7% menos que em 2014. Fabricantes de veículos, autopeças e acessórios, aparelhos eletroeletrônicos, bens de informática, têxteis, vestuário, máquinas e equipamentos, alimentos e bebidas tiveram um ano especialmente ruim, já descrito nas estatísticas setoriais. A atividade industrial perdeu vigor seguidamente nos últimos cinco anos. Os números acumulados a partir do primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff mostram a devastação do maior setor manufatureiro do Hemisfério Sul e um dos maiores do mundo emergente. Essa destruição é visível também no comércio exterior, com a redução da importância das exportações de manufaturados.

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Mas o quadro fica mais inteligível – e mais feio – quando se examina o investimento em meios físicos de produção, medido pela formação bruta de capital fixo. O valor investido em máquinas, equipamentos e construções (incluída a infraestrutura) diminuiu 14,1% entre 2014 e 2015, descontada a inflação. A participação do investimento na formação do PIB caiu de 20,2% para 18,2%. O ponto mais alto (20,9%) havia ocorrido em 2013. Durante anos o governo manteve a promessa de elevar essa participação para 24%, aproximando a formação de capital de fixo do padrão mínimo observado na maior parte das economias emergentes e em desenvolvimento. A promessa nunca foi cumprida, nem será neste ano.

O potencial de crescimento depende do investimento no capital físico e nos chamados fatores intangíveis, como educação, treinamento, pesquisa e difusão de tecnologia. O País pouco tem avançado em relação a esses fatores e as políticas de formação bruta de capital fixo têm sido um fiasco. Os empresários privados investem bem menos que o necessário. O investimento das estatais tem dependido principalmente da Petrobrás há vários anos, mas a pilhagem da empresa, mostrada pela Operação Lava Jato, forçou uma redução de seus planos. No caso dos transportes e de outros itens da infraestrutura, o fracasso do governo é inegável, por sua incapacidade de elaborar e de executar projetos e de mobilizar o capital privado.

Além disso, a geração de poupança tem sido muito baixa e o valor poupado ainda diminuiu de 18,4% do PIB em 2013 para 16,2% em 2014 e para 14,4% em 2015. A causa principal da redução da poupança tem sido a desastrosa gestão das finanças públicas. O capital externo absorvido nos últimos anos tem servido muito mais para cobrir o consumo – privado e público – do que para financiar a acumulação de meios produtivos.

Com a inflação ainda muito elevada, o Banco Central dificilmente poderá baixar os juros básicos do patamar de 14,25%, confirmado pelo Comitê de Política Monetária (Copom) nesta quarta-feira. Mas os juros são hoje o menor obstáculo ao investimento. A crise política, a desastrosa gestão das contas públicas, a incompetência do governo e sua baixa credibilidade são os principais empecilhos ao investimento – público e privado – e, portanto, à retomada de um crescimento bem mais acelerado e sustentável por vários anos.