O X-FI do problema

Colunista comenta filosofia experimental saudada como um marco exponencial na maneira como compreendemos - ou tentamos compreender - o mundo.

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Por Ivan Lessa
Atualização:

Chegou X-fi. Tudo vai melhorar. Meio ambiente, crise econômico-financeira, mulher que cisma de ser fiel ao marido. Passarão a um lugar secundário. X-fi chegou para ficar e não só nos vai tirar de enrascadas como também nos lançar nos braços de um futuro feliz. Que pode ser até essa senhora em que vossa senhoria encarnou. X-fi. Examinemos primeiro pelo seu som e jeitão. Parece um novo engenho que pode ser acoplado a nosso computador e nos botar navegando a 1000 km por hora. Parece um super-herói que após o sucesso em romance gráfico vai finalmente virar grande produção cinematográfica com o George Clooney. X-fi parece uma porção de coisas. X-fi, no entanto, é uma coisa só. Única e insuperável. Talvez até - sonhemos - destinada a dar uma rasteira no raio do twitter. X-fi, que fique claro, não é uma banda de rock estourando nas bocas e paradas, destinada a abrir os concertos de Michael Jackson pelo Reino Unido em julho. X-fi não é videogame ou a última palavra em matéria de aparelho de som. X-fi não cura nem câncer nem resfriado. X-fi merece, apesar de tudo que não é, nossa consideração e respeito levando-nos aos recantos obscuros da imaginação, que deve ser sempre alada e desconhecer limites. X-fi. Abro o jogo. Em busca de parceiros. X-fi é como traduzi (não foi difícil) X-phi. Sua definição é mais complicada. Filosofia experimental. Não é preciso ter medo. Não morde. Os realmente técnicos vêm saudando-a como um marco exponencial na maneira como compreendemos - ou tentamos compreender - o mundo. X-fi também pode ser, dependendo do ponto de vista filosófico, um beco sem saída. X-fi, em suma, é mais simples quando se tenta, como nestas linhas, chegar a seu busílis. X-fi significa fazer as grandes perguntas que atazanam a mente do homem desde que ele começou a formular perguntas sobre a vida e seu sentido. "Quem sou e para onde vou?". Esta é uma das grandes perguntas feitas sobre a vida. X-fi está prontinha para lhe soprar algumas deixas. "Olha", diz a X-fi com simplicidade aparente, "para com essa história de especular baseado em suposições inverificáveis." X-fi senta, leva uma bala de hortelã à boca e prossegue: "o negócio é usar de uma imagética neurológica. Tentar ver que parte do cérebro reage a um determinado dilema." Uma intenção só pode ser entendida à luz da natureza daquilo que produz? Por que os chineses entendem que um nome é representativo e os venezuelanos específico? Estratosfera altamente científica, pois não? Talvez e quiçá também. Acontece que a X-fi constitui ainda observação das massas e como as pessoas respondem a determinadas situações. O que, por sua vez, leva a novas e mais complicadas perguntas. Quem sou eu e para onde vou? Sem camisa e atravessando a avenida Atlântica a caminho da praia nunca entendi essa história. Uma bobajada enorme, no meu entender. Talvez agora, no tempo que me sobra, ganhe uma nova luz, já que não ando mais sem camisa e as praias acabaram. O que fazer com um flashlight, nesta altura do campeonato, confesso que não sei. X-fi me ajudará a saber um pouco mais das mil coisas que sempre me deixaram apalermado. É o que me garantem. Não estou interessado. Os jovens que aproveitem. Filosofem experimentalmente como um irlandês numa cervejaria. Eu faço pipocas no micro-ondas, boto mais um DVD na televisão e, do fundo de minha poltrona de couro, não pondero nada. Absolutamente nada. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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