Oposição acusa governistas de 'cerco armado' na Bolívia

Apoiadores do presidente boliviano estariam ameaçando Departamento opositor.

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Por Marcia Carmo
Atualização:

O Comitê Cívico do Departamento (Estado) Santa Cruz, entidade que reúne membros da oposição ao governo Evo Morales, na Bolívia, divulgou na noite desta sexta-feira um comunicado em que acusa partidários do presidente de promover "um cerco armado" ao Departamento. O texto afirma que, apesar do pré-acordo assinado na terça-feira, no qual governo e oposição se comprometem a desbloquear estradas, cerca de 40 mil seguidores do presidente Evo Morales realizam um cerco a Santa Cruz - reduto da oposição. Quatro das seis principais estradas do Departamento estariam bloqueadas. O comunicado atribui as informação sobre o total de manifestantes à Condeferação Sindical Única de Trabalhadores Camponeses da Bolívia (CSUTCB), simpatizante de Morales. O documento afirma ainda que a Polícia Nacional informou sobre a chegada de ônibus com manifestantes de outros Estados que integraram-se aos protestos na região opositora a Morales. Dinamites No fim do dia, durante um intervalo da reunião em Cochabamba, o governador de Tarija, Marío Cossío, porta-voz da oposição, também criticou os bloqueios de estradas. "Não se pode dialogar enquanto fecham acessos à cidade (de Santa Cruz). Isso pode acabar com a vontade de diálogo que existe neste momento. Já pedimos ao governo que acabe com estas mobilizações", disse. "Atitudes como estas, com manifestantes com dinamites que interferem no processo de diálogo, devem ser condenadas em todo o país", completou Cossío. O secretário-geral da OEA (Organização dos Estados Americanos), o chileno José Miguel Insulza, disse que os movimentos sociais deveriam suspender seus protestos para "facilitar" o diálogo entre governo e oposição. "O ideal seria que todos ficassem tranqüilos. O diálogo já está instalado", disse num intervalo da reunião, nesta sexta-feira. Mesas de negociação No segundo dia de reuniões em Cochabamba, foram formadas três mesas de diálogo, como sugeriu Morales. A primeira, sobre o Imposto Direto de Hidrocarbonetos (IDH), a segunda, sobre autonomia e a nova Constituição e uma terceira mesa sobre pacto fiscal. As mesas de negociação foram instaladas sem a presença de Morales, que viajou ao Panamá, mas volta a participar da reunião neste sábado. Além de Miguel Insulza, participam do encontro o delegado político da OEA, Dante Caputo, e as chamadas "testemunhas" - diplomatas do Brasil, da Argentina, do Chile, do Equador e representantes da Igreja Católica. Constituição Um dos itens mais difíceis da discussão promete ser a nova Carta Magna - aprovada no ano passado, sem a presença da oposição. "O governo já disse que pode fazer concessões na Constituição em relação às autonomias e nada mais. Se o governo abrir a discussão para outros itens, então se derrubará a revolução social", disse o assessor jurídico do governo Morales, Eusébio Gironda, em entrevista à rádio Fides, de La Paz. Cossío reagiu contra a postura do governo. "Nós queremos um grande pacto social. A Carta Magna tem pontos que geram grande mal estar nas regiões", afirmou à imprensa em Cochabamba. A nova Constituição inclui itens que geram polêmica na oposição, como a reforma agrária e as autonomias indígenas. Nos bastidores do governo e da oposição, afirma-se que o governo aceita discutir as autonomias dos Estados, desde que seus opositores aceitem "não mexer" na nova Carta. "Isso não é possível. Esperamos que esta visão mude com o diálogo", disse à BBCBrasil o vice-presidente do Comitê Cívico de Santa Cruz, Luis Nuñez. Prazos A expectativa de Morales é poder anunciar o entendimento já na segunda-feira, mas Cossío disse que vai tentar que não sejam estabelecidos prazos. "Pra quer ter pressa agora? São assuntos muito profundos, precisamos de tempo", disse. Na segunda-feira, desembarcará na Bolívia uma missão de parlamentares brasileiros para dialogar com governo e oposição. Ao mesmo tempo, o Comitê Cívico de Santa Cruz deverá marcar data para uma missão que deve visitar o Brasil. O delegado brasileiro da Unasul (União das Nações da América do Sul) será o embaixador Luis Felipe Macedo Soares, que desembarca em Cochabamba no fim de semana. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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