Nem se superou a recessão anterior - o PIB ao final de 2019 ainda se encontrava 3,2% abaixo do nível pré-crise de 2014-16 - e o País se defronta com a mais grave recessão da história.
O encolhimento de 1,5% no PIB do primeiro trimestre não é pouco, pois o isolamento social iniciou-se apenas no dia 23 de março nas principais regiões do País - ainda que antes disso as incertezas no cenário já prejudicassem a atividade.
O resultado confirma que a economia vinha em um ritmo de quase estagnação, na verdade desde o final do ano passado. Não é correto afirmar que havia um crescimento robusto contratado que foi inviabilizado pela pandemia.
Era esperada uma aceleração modesta do PIB, com o consumo e o investimento (demanda) reagindo aos juros mais baixos, mas não a produção industrial (oferta), devido à baixa produtividade e reduzida competitividade de seus produtos.
A julgar pelo primeiro trimestre, o segundo será um desastre, com possível queda de dois dígitos, algo sem precedentes. Vale lembrar que na dura recessão recente, a contração acumulada foi de 8,1%.
As perspectivas para o segundo semestre são incertas, mas não convém alimentar grandes expectativas, mesmo com o fim do isolamento.
Não se trata de tirar a economia da “tomada” e religa-la rapidamente. Longe disso. A crise deixa sequelas. Abala a saúde financeira de consumidores e empresas, bem como os fundamentos da economia, principalmente pela brutal deterioração das contas públicas.
Além disso, o potencial de crescimento do País – definido pela qualidade e a quantidade de capacidade instalada, mão de obra e infraestrutura – que já era baixo, em torno de 1%, será adicionalmente impactado pela queda do investimento e pelo despreparo da mão de obra e das empresaspara a nova realidade digital.
A agricultura ajuda, mas não é “puxadora” de PIB. O dólar forte poderá elevar a rentabilidade de exportações e contribuir para reduzir a importação, mas seu efeito de curto prazo é recessivo - aumenta a dívida em dólar das empresas e os preços de insumos e máquinas.
2020 está condenado. Todo cuidado é pouco para não comprometer o futuro.
*CONSULTORA E DOUTORA EM ECONOMIA PELA USP