Outros tons de vermelho

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Por José Rubens Macedo Jr.
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Artigo publicado originalmente no Estadão Noite O governo federal anunciou um programa de investimentos no setor elétrico totalizando R$ 186 bilhões em ativos ao longo dos próximos três anos. Sem dúvida, o setor elétrico nacional vive seus piores momentos desde o racionamento energético de 2001. Apesar de não ter sido oficialmente decretado um novo racionamento por parte do Palácio do Planalto (mesmo no momento em que os reservatórios da Região Sudeste agonizavam e registravam apenas 16% de sua capacidade), pode-se dizer que vivemos hoje uma espécie de racionamento branco. Cada megawatt-hora (MWh) gerado ou consumido vem sendo minuciosamente gerenciado pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico, o qual é merecedor de todos os créditos pela sustentação energética do País ao longo dos últimos doze meses.  Ainda assim, o pesadelo continua e as previsões para os próximos meses, em termos de volume de água nos principais reservatórios das Regiões Sudeste e Centro-oeste, são ainda bastante alarmantes. A preocupação, no entanto, é que o anúncio do plano de investimentos para o setor elétrico ocorre em um momento de grande instabilidade política e econômica. Com a credibilidade do governo em baixa, atingindo níveis históricos, torna-se inevitável a preocupação quanto ao uso do anúncio visando tão simplesmente uma melhoria instantânea na imagem do governo. Afinal, ao mesmo tempo em que são anunciados grandes investimentos no setor elétrico, o País promove cortes substanciais de custeio em diversas áreas prioritárias como, por exemplo, a Educação.  Em termos técnicos, o plano anunciado pelo governo é muito importante para a nossa autossuficiência energética, uma vez que contempla novos projetos de geração, novas linhas de transmissão, assim como investimentos em energias renováveis. A questão, no entanto, é que tudo isso já deveria estar pronto. Historicamente, as obras de infraestrutura energética no Brasil estão sempre em descompasso com a evolução futura da carga.  Outro aspecto importante a ser considerado refere-se às questões ambientais. O governo precisa estabelecer de uma vez por todas o ponto de equilíbrio entre as questões ambientais e energéticas. Caso contrário, como de costume, várias das obras propostas registrarão atrasos por questões ambientais. É preciso conscientizar a população sobre a importância dos empreendimentos de geração de energia elétrica contemplando grandes reservatórios de água. Apesar das energias renováveis serem as atrações do momento, um país de dimensões continentais como o Brasil não consegue sobreviver às custas de sol e vento. Somente a água acumulada em reservatórios pode nos garantir, a custos mais acessíveis, a segurança energética da qual precisamos. Finalmente, de forma paralela ao plano de investimentos, o governo anunciou também a redução do preço tarifário da bandeira vermelha em até 20%, graças ao desligamento de algumas usinas térmicas na última semana. De certa forma, isso seria como estabelecer outros tons de vermelho dentro da bandeira tarifária. Com as previsões nada otimistas em relação ao volume de água dos grandes reservatórios para os próximos meses, tal redução não somente poderá ser temporária, como muito em breve poderão ser anunciados novos tons de vermelho, ainda mais escuros.* José Rubens Macedo Jr. é professor da Faculdade de Engenharia Elétrica da Universidade Federal de Uberlândia e Professor visitante na Worcester Polytechnic Institute (WPI), Massachusetts, Estados Unidos

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