Pacientes e MP contestam defesa de médico acusado de abuso

Roger Abdelmassih afirma que o anestésico utilizado por ele provoca 'desinibição sexual' nos pacientes

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Por Fabiane Leite , Flavia Tavares e de O Estado de S. Paulo
Atualização:

Pacientes que acusam o médico Roger Abdelmassih de suposto abuso sexual criticaram ontem a linha de defesa do especialista em fertilização. Para o Ministério Público de São Paulo, as alegações do médico são fantasiosas e servem para causar constrangimento às supostas vítimas. Veja também: Mais 14 mulheres denunciam abuso em clínica de SP Médico especialista em fertilização é investigado por assédio Caso será investigado por comissão do Cremesp Após 18 anos, mulher contou ontem ao ex-marido que teria sofrido abuso Em nota, médico diz que não há provas contra ele  Em entrevista ao Estado, publicada no domingo, Abdelmassih afirmou que o anestésico propofol, utilizado por ele durante a retirada de óvulos das pacientes, causa "comportamento amoroso" em até 4% dos usuários. Isso poderia, segundo ele, ser uma explicação para as acusações. Um representante da Sociedade Paulista de Anestesiologia informou ontem que há estudos sobre a possibilidade de diferentes anestésicos causarem "desinibição sexual", mas enfatizou a segurança do medicamento. "O propofol é considerado uma ótima opção justamente pelo despertar rápido dos pacientes", explica o vice-presidente da entidade, Desire Callegari. "E as mulheres que estavam lúcidas? No meu caso, na primeira tentativa em que ele fez, estava totalmente lúcida. Além disso, por que as alucinações ocorreriam somente com ele e não com outras pessoas, como os assistentes?", questiona a empresária Ivanilde Serebrenic, de 41 anos, uma das pacientes que já depôs na polícia - e uma das poucas que revelou sua identidade. Segundo Ivanilde, na segunda ocasião em que o médico a teria molestado, após a retirada dos óvulos, os efeitos do sedativo já tinham passado completamente. "Só tive prejuízo ao revelar minha identidade, recebi uma ameaça anônima de processo e advogados ligam para pegar meu caso. Não quero sensacionalismo, não tenho nada a ganhar com isso. Mas espero que outras mulheres se dirijam ao Ministério Público", disse ainda a empresária. "E gostaria de encontrar o doutor Roger para ver ele negar o que fez na minha cara." Outra alegação de Abdelmassih para refutar as acusações é a de que, em momento algum do procedimento, ele ficaria sozinho com as pacientes. " Tanto na aspiração dos óvulos quanto na inseminação do embrião, ele entrou sozinho comigo no centro cirúrgico", diz outra paciente, que já relatou seu caso ao MP, que teria ocorrido em 2003, mas preferiu não se identificar. "E, depois, já no quarto, quando eu estava bem acordada e vestida para ir a um compromisso de trabalho, ele tentou me agarrar. Só parou quando eu gritei." "É um despropósito, a impressão é de que ele quer causar mais constrangimento para as vítimas", disse o promotor José Reinaldo Guimarães Carneiro, do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado, que investiga Abdelmassih por abusos contra pelo menos 54 mulheres. "Essa tese, de passar a ideia de alucinação, para a promotoria, soa como um deboche. As vítimas merecem pelo menos o respeito e continuarão tendo a proteção do Ministério Público". O promotor disse ainda que, além de atentado violento ao pudor, Abdelmassih é investigado também por estupro. Segundo ele, o caso foi relatado por uma mulher de Minas cuja identidade é mantida em sigilo e cujo depoimento, prestado naquele Estado, já foi recebido pelo Gaeco. "Isto tudo é no mesmo inquérito. O que posso dizer é que o doutor Roger Abdelmassih é um profissional renomado que não arranharia sua reputação abusando de pacientes. Com certeza ele vai provar sua inocência", reafirmou ontem um dos advogado do profissional, Adriano Vanni. O promotor refutou ainda a alegação de Abdelmassih de que as vítimas se conhecem e fazem parte de comunidade do site de relacionamento Orkut. Segundo a promotoria, há pacientes de sete Estados e elas relatam abusos ocorridos até 19 anos atrás. Segundo explicou Callegari, da sociedade de anestesistas, o laboratório que fabrica o medicamento não divulgou nenhum relatório sobre a desinibição sexual que ele causaria e, se algo grave ocorrer, é obrigação do médico avisar o hospital em que ele trabalha ou a vigilância sanitária.

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