PUBLICIDADE

País tem 300 casos graves de problemas ambientais

São Paulo concentra 30 deles, revela mapa que relaciona os conflitos a riscos de saúde

Por Afra Balazina e Andrea Vialli
Atualização:

O Brasil tem pelo menos 300 casos graves de problemas ambientais e o Estado de São Paulo concentra 30 deles. É o que mostra levantamento feito pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e pela Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional (Fase), que será apresentado na Assembleia Legislativa de São Paulo na próxima semana. O trabalho, chamado de Mapa da Injustiça Ambiental e de Saúde no Brasil, está disponível para consulta na internet (conflitoambiental.icict.fiocruz.br). Ele aborda casos como os de contaminação na Vila Carioca e em Jurubatuba, na capital paulista, e situações do interior e do litoral. "É em São Paulo onde aparecem mais conflitos. É o Estado mais populoso e mais industrial, além de ter o passivo ambiental mais conhecido, com entidades ambientais atuantes", afirma Marcelo Firpo, coordenador do projeto e pesquisador da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz). Segundo Firpo, o objetivo do mapa é "dar maior visibilidade às lutas por melhor qualidade de vida e por um ambiente mais saudável". Ele admite que o universo levantado num período de um ano e meio de trabalho não esgota as inúmeras situações de contaminação existentes no País. "Mas reflete uma parcela importante de casos", diz.O mapa apresenta, além de muitas situações de contaminação do solo e da água, questões como a construção de um porto em Peruíbe - que impactaria uma área preservada de Mata Atlântica e uma aldeia indígena - e a criação de hidrelétricas no Vale do Ribeira, no sul do Estado, que afetaria quilombolas. Sem solução. Vários casos de contaminação são conhecidos dos moradores da capital. Porém, a maior parte dos problemas não teve uma conclusão considerada satisfatória pelos atingidos. Um dos exemplos é a Vila Carioca, na zona sul, que teve o solo e a água contaminados por substâncias cancerígenas por uma unidade estocagem da Shell. De acordo com o mapa, a situação ameaça a saúde de até 30 mil pessoas num raio de um quilômetro.Segundo a agência ambiental paulista (Cetesb), a Shell mapeou e removeu o solo contaminado e tem feito o tratamento da água subterrânea. Rodrigo Cunha, coordenador do grupo que gerencia as áreas consideradas críticas pela Cetesb, afirma que durante as investigações do caso foi descoberta também a contaminação "por solventes clorados, que a Shell nunca manipulou". Agora, segundo ele, é preciso continuar os estudos para identificar quem foi responsável pela contaminação. Segundo Marcelo Guirao, vice-presidente da SOS Vila Carioca, quatro CPIs sobre o caso já foram feitas, mas não houve desfecho. Ele pede um acompanhamento efetivo da saúde das pessoas afetadas. "É tudo muito devagar e os exames são sempre inconclusivos, o que dificulta qualquer processo na Justiça." Em nota, a Shell Brasil afirma que finalizará neste ano os trabalhos de contenção da poluição do local e dará continuidade aos monitoramentos. Mas a empresa nega que suas atividades coloquem em risco a saúde da população no entorno de sua unidade. "Todos os estudos, análises e monitoramento ambiental que a Shell vem realizando desde o início dos trabalhos indicam que os impactos ambientais das atividades do passado estão concentrados na área interna da unidade, não oferecendo exposição a risco de saúde dos seus vizinhos." Em relação a Jurubatuba, também na zona sul, o mapa informa que é considerada a área com maior passivo ambiental da cidade. "Os aquíferos da região estão contaminados com solventes clorados. Além da proximidade com a Represa Billings, há na área grande número de indústrias com aquíferos poluídos, uma faculdade e bairros residenciais expostos." Segundo Cunha, há 19 empresas envolvidas e, enquanto algumas fazem uma investigação detalhada do problema, outras já iniciaram a descontaminação. A Cetesb tem oito áreas atualmente consideradas críticas - tanto a Vila Carioca quanto Jurubatuba estão na lista.IndignaçãoMARCELO GUIRAOVICE-PRESIDENTE DA SOS VILA CARIOCA"Falta atuação do poder público na Vila Carioca. Nesse caso, o tempo é sempre amigo da empresa. Estamos desde 2002 em cima disso e nada aconteceu até agora.""Não é justo a gente arcar com todo o prejuízo. A administração municipal também deveria cobrar o que já gastou até agora com a saúde das pessoas."

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.