Palmeira em pé dá mais lucro

Produtores que antes cortavam ilegalmente a palmeira juçara para [br]extrair o palmito agora produzem o açaí

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Por Niza Souza
Atualização:

A descoberta de que a partir da semente da palmeira juçara pode-se produzir uma polpa tão nutritiva e gostosa quanto a do famoso açaí da Amazônia pode ser o caminho para combater a extração ilegal do palmito juçara, um dos maiores problemas na Mata Atlântica. Em São Paulo, a Fundação Florestal desenvolve há alguns anos programas de fomento da produção e manejo sustentável de juçara e os primeiros resultados começam a surgir. Um deles é o projeto de repovoamento da palmeira juçara no Vale do Ribeira, no sul do Estado, que teve início em 1998, com a proposta de combater a extração ilegal da espécie, prática que atinge inclusive áreas de parques estaduais. A idéia, diz o agrônomo Guenji Yamazoe, era aproveitar áreas já desmatadas e abandonadas por bananicultores para a produção sustentável do palmito. ''No meio do caminho percebemos que era possível aproveitar a semente e produzir uma polpa semelhante à do açaí. O que é ainda mais viável e interessante, pois o produtor pode ter renda sem precisar cortar a palmeira'', diz. Os primeiros plantios, cerca de 50 hectares (mil árvores por hectare), foram feitos no bairro do Rio Preto, em Sete Barras. ''Ali há cerca de 100 famílias e 30 já estão no projeto'', diz o biólogo Wagner Gomes Portilho, da Fundação Florestal, unidade de Registro. Ele destaca que é preciso trabalhar o manejo sustentável de espécies da floresta atlântica e para isso é ''essencial deixar as árvores em pé''. ''Conseguimos conscientizar esses produtores mostrando que o aproveitamento da polpa é mais lucrativo que o palmito.'' O presidente da Associação de Desenvolvimento Comunitário do Bairro Rio Preto, Antonio Neves Teixeira, conta que, antes de aderir ao projeto, a maioria dos agricultores do bairro plantava bananas. ''Com a sigatoka negra e a broca os custos aumentaram e ficou inviável continuar. Além disso, produtores do Sul começaram a plantar banana de qualidade melhor e os compradores sumiram daqui'', conta Teixeira. SOBREVIVÊNCIA Ele argumenta que os palmiteiros retiram o palmito da mata para sobreviver. Agora, com o projeto de manejo sustentável, a expectativa é melhorar as condições dos produtores. ''Ainda estamos começando, mas incentivamos todos a plantar. Inclusive, temos o viveiro e produzimos as mudas para vender'', diz. Para processar a semente, a Associação de Desenvolvimento Comunitário do Bairro Rio Preto recebeu em 2003 a doação de R$ 100 mil, da Embaixada Britânica, para instalar um laboratório-piloto de extração da polpa. Este é o segundo ano que a comunidade testa a produção. A colheita da semente é manual e exige certa habilidade, pois as sementes ficam no topo da árvore. A polpa equivale a 30% da semente. O que sobra também é aproveitado para as mudas. Este ano, a comunidade produziu 500 pacotes (de 400 gramas) de polpa congelada. ''Ainda é pouco, porque mais da metade da área é de plantio novo. Mas o projeto ainda está começando e podemos dizer que é um caminho seguro, pois o açaí já tem mercado'', diz Yamazoe. O potencial para plantio, só no Vale do Ribeira, é de 50 mil hectares de área agricultável abandonada.

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