Para BC, fluxo cambial eleva risco de bolha de crédito

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Por WALTER BRANDIMARTE
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A forte entrada de dólares está elevando o risco de uma bolha de crédito no Brasil, forçando as autoridades a impor regras mais duras sobre empréstimos bancários, afirmou nesta sexta-feira o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. O volume de crédito disponibilizado pelos bancos brasileiros teve forte alta nos últimos meses, depois que o governo estimulou o consumo para dar suporte à economia durante a crise econômica global. Os dólares que chegam ao país podem intensificar essa tendência, ao ampliar a liquidez no sistema bancário, acrescentou Meirelles. "O Banco Central está muito cuidadoso com isso. É por isso que continuamos fortalecendo regras prudenciais no Brasil, para proteger a economia brasileira de bolhas de crédito", disse a investidores em evento organizado pela Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos, em Nova York. Ele evitou fazer projeções sobre os fluxos futuros de dólar ao país, após a conclusão da oferta de ações da Petrobras . "É uma atividade temerária no mundo de hoje fazer previsão sobre fluxo cambial, exatamente devido ao aumento do fluxo internacional de capitais nos últimos anos e particularmente devido ao alto nível de liquidez hoje da economia norte-americana", notou Meirelles. "Dito isso, é razoável supor que o lançamento de ações da Petrobras marcou um período de ingresso expressivo de divisas, e não há uma projeção de outros lançamentos da mesma dimensão." ENFRENTANDO OS DESEQUILÍBRIOS A política monetária expansionista nos Estados Unidos está gerando desafios para muitos países emergentes, que precisam lidar com maciços fluxos de moeda estrangeira que vêm provocando a apreciação de suas moedas, prejudicando exportadores e seu balanço de pagamentos. Meirelles disse que, embora os EUA tenham o direito de amparar sua economia com estímulos monetários, cada país tem de tomar suas próprias medidas para evitar desequilíbrios causados pelo excessivo fluxo de dólares. No Brasil, o BC mantém sua política de comprar o excesso de oferta de dólares no mercado à vista e reforçar as reservas internacionais, disse. Meirelles acrescentou que o BC também vai atuar em nome do Tesouro Nacional para comprar dólares para o Fundo Soberano, garantindo a necessária coordenação entre as duas políticas. Detalhes sobre os mecanismos das compras do Fundo Soberano ainda não foram anunciados. Investidores estão particularmente preocupados com a transparência do processo, já que o Tesouro pode decidir não revelar a quantidade de dólares comprada. Frente a essas preocupações, Meirelles disse que o Banco Central vai anunciar os detalhes operacionais das compras de dólar para o Fundo Soberano, incluindo os mecanismos dos leilões. "O BC vai aplicar sua metodologia de uma maneira transparente", afirmou Meirelles. "Mas a decisão de revelar ou não a quantia de dólares comprados é do Tesouro."

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