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Para jornal, ministro britânico foi 'vingativo' com Ronald Biggs

Ministro da Justiça negou na quarta-feira liberdade condicional ao ladrão que se refugiou no Brasil.

Por BBC Brasil
Atualização:

A decisão do ministro da Justiça britânico, Jack Straw, de negar a concessão da liberdade condicional a Ronald Biggs foi um "tratamento vingativo", na avaliação de um editorial publicado nesta quinta-feira pelo diário The Independent. Straw anunciou na quarta-feira a decisão de manter o famoso "assaltante do trem pagador" atrás das grades, apesar da recomendação da comissão que avalia a concessão de liberdades condicionais favorável à sua soltura. Biggs, de 79 anos, participou em 1963, ao lado de outros 14 homens, do roubo de 2,6 milhões de libras transportados por um trem que viajava de Glasgow a Londres, na época o maior roubo da história. Após ser preso e ter cumprido 15 meses de sua sentença de 30 anos, Biggs fugiu e passou por diversos países até se radicar no Rio de Janeiro, onde teve um filho e passou 35 anos. Ele retornou à Grã-Bretanha em 2001 e se entregou à polícia para cumprir o restante de sua sentença. Após uma série de derrames, Biggs estaria incapaz de falar, alimentando-se por um tubo no estômago e locomovendo-se em uma cadeira de rodas. Ele estaria ainda com pneumonia e teria quebrado o quadril numa queda recente. Ameaça "Um homem de 79 anos padece atrás das grades, onde ele está há oito anos. Sua saúde está destruída e ele não pode caminhar sem ajuda. Seu crime foi cometido em 1963 e ele não é mais uma ameaça a ninguém. E na semana passada, a comissão para condicionais recomendou sua libertação", observa o editorial do Independent. O jornal comenta que "normalmente, isso seria suficiente para a concessão da liberdade condicional", mas não no caso de Biggs. O pedido de liberdade condicional argumenta que Biggs já cumpriu um terço de sua pena original, contando o tempo em que passou preso nos anos 1960 e os oito anos desde que retornou a Londres. Na quarta-feira, o ministro Jack Straw anunciou a rejeição da recomendação da comissão alegando que o assaltante não respeitou a lei e as punições impostas a ele e que não demonstrou estar arrependido de seu crime. "O tratamento vingativo a um homem velho e frágil cujo maior crime, seja o que for que o sr. Straw diga, foi zombar da polícia britânica por várias décadas, dificilmente reflete bem nosso sistema legal", afirma o editorial do Independent. 'Decisão cruel' Outros diários britânicos também destacaram em suas edições desta quinta-feira a decisão do ministro britânico sobre Ronald Biggs. Reportagem do jornal The Guardian destaca as críticas à decisão de Straw e cita o advogado de Biggs, Giovanni Di Stefano, para quem a decisão foi "cruel". "Todos os outros assaltantes do trem pagador cumpriram um terço de suas sentenças, então por que Ronnie Biggs deveria ser diferente?", questionou Di Stefano. "Dez anos é suficiente. Isso mostra um lado do governo britânico que é perverso – é uma punição cruel e pouco usual", disse. O jornal também cita o filho de Biggs, Michael, nascido no Brasil, para quem o pai "cumpriu sua dívida com a sociedade". Recurso O diário The Times, por sua vez, diz que os advogados de Biggs pretendem recorrer da decisão de Straw assim que possível. O jornal também cita a ex-secretária do sistema penitenciário Ann Widecombe, para quem as vagas em prisões deveriam ser usadas "para quem realmente representa um risco para a sociedade". "É difícil ver como ele (Biggs) representa uma ameaça a qualquer um a não ser para os políticos", disse ela, segundo o Times. O tablóide Daily Mail afirma que a decisão de Straw condena Biggs a uma "morte quase certa atrás das grades", considerando o seu frágil estado de saúde. "Ele não deve ter uma nova avaliação sobre a concessão da liberdade condicional até no mínimo o ano que vem, quando ele já poderá ter morrido", diz o jornal. Segundo o Daily Mail, a decisão de Straw gerou acusações de que o ministro quer passar uma imagem ao público de que está sendo "duro" contra o crime. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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