Pediatras dobram recomendação de consumo diário de vitamina D

Sociedade Brasileira de Pediatria segue orientação de especialistas dos Estados Unidos, o que gera críticas de médicos brasileiros; vitamina é importante para os ossos e tem o Sol como sua principal fonte, além de alimentos como peixes e leite integral

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Por Fernanda Bassette
Atualização:

A Sociedade Brasileira de Pediatria vai dobrar a recomendação de consumo diário de vitamina D para crianças e adolescentes: o valor salta de 200 UIs (unidades internacionais) para 400 UIs por dia. A atualização será publicada em maio.No Brasil, o cálculo de consumo de vitamina D é feito em microgramas. Cada UI equivale a 40 mcg. Segundo Elaine Martins Bento, presidente da Associação Paulista de Nutrição, 100 gramas de salmão têm 11,83 mcg de vitamina D ou 473,2 UIs. Cada 100 gramas de gema de ovo possuem 2,08 mcg de vitamina D ou 83,2 UIs. A alteração do manual da SBP seguirá em parte as novas orientações da Academia Americana de Pediatria, publicadas no início deste mês. Nos EUA, as novas diretrizes recomendam o consumo de 400 UI para crianças de até 18 meses e de 600 UI para as mais velhas, independentemente da exposição solar.A recomendação para consumo de cálcio continua a mesma: de 1 a 3 anos, 700 mg de cálcio; de 4 a 8 anos 1 g de cálcio. Ossificação. O consumo de vitamina D é importante porque, junto com o cálcio, ela atua no processo de ossificação. Quando está em falta, pode provocar raquitismo, alterações no crescimento e nos ossos, além de reduzir a imunidade. Em quantidades ideais, diminui o risco de osteoporose na fase adulta.A principal fonte de vitamina D é a exposição diária à luz do Sol, por ao menos 15 minutos. É ele que estimula a síntese da vitamina no organismo. Alguns alimentos também são fontes, mas em quantidades insuficientes para alcançar as metas. Segundo Virgínia Resende Silva Weffort, presidente do Departamento de Nutrologia da SBP, o Brasil não vai triplicar a recomendação diária (para 600 UIs) porque, teoricamente, a criança brasileira tem mais exposição à luz solar que as americanas."A gente entende que a criança com até 18 meses não se expõe ao Sol e, por isso, a ideia de profilaxia (suplementação de vitamina D com uso de medicamento) é necessária", diz Virgínia.Para crianças maiores, explica, a suplementação só será necessária caso a criança não consiga atingir a quantidade de vitamina D recomendada apenas com alimentação e luz solar. A nutricionista Bárbara Santarosa Peters, doutora em saúde pública, diz que dificilmente uma criança vai atingir 400 UIs por dia de vitamina D apenas com comida - mesmo que a alimentação seja rica em leite integral e peixes, fontes da vitamina."As crianças não alcançam nem a recomendação antiga, de 200 UIs, apenas com alimentação. Agora vai ficar mais difícil ainda. Será necessário estimular a exposição adequada dessas crianças ao Sol", diz.Segundo Bárbara, muitas pessoas ainda acreditam que o Brasil não tem déficit de vitamina D por ser um país ensolarado, ao contrário dos Estados Unidos. Mas, em um trabalho feito com adolescentes do interior de São Paulo, ela constatou que 62% deles estavam com níveis baixos da vitamina - embora morassem em uma região ensolarada. "As discussões a respeito disso no Brasil ainda são muito recentes. Mas, sem suplementação com medicamentos ou fortificação dos alimentos, acho difícil alcançarmos a recomendação."Hélio Fernandes da Rocha, do Departamento de Nutrologia da Sociedade de Pediatria do Estado do Rio de Janeiro, diz que vai seguir as recomendações, mas as considera desnecessárias para o Brasil. "Estamos nos baseando em pesquisas americanas porque não temos trabalhos brasileiros para contrapor os dados."Para Rocha, os níveis de insolação no Brasil são suficientes para a criança atingir a quantidade necessária de vitamina D, sem precisar recorrer à medicação.PARA LEMBRARNo ano passado, tanto o Ministério da Saúde dos Estados Unidos quanto cientistas recomendaram o consumo de leite de vaca por adultos. Os motivos são a riqueza nutricional e a raridade de casos de intolerância e alergia ao produto. Segundo os especialistas, não se justifica retirá-lo da dieta sem ter certeza de que há algum problema de saúde que contraindique seu consumo. Os pesquisadores reforçaram que não há evidências científicas de que o leite de vaca cause doenças respiratórias como a asma, por exemplo. Por outro lado, ainda é controverso que o leite seja benéfico para úlceras, por exemplo, como diz a sabedoria popular.Não há motivo, portanto, para a maioria da população não seguir a recomendação que consta no Guia Alimentar para a População Brasileira, do Ministério da Saúde, que preconiza três porções de leite e derivados por dia - uma porção é um copo de leite, por exemplo. Segundo a pasta, o leite é a melhor fonte de cálcio, mineral essencial para a saúde dos ossos, mas o País registra redução de consumo.

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