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Peixe com selo verde chega ao consumidor

Ameaça de extinção de algumas espécies faz crescer mercado de pesca sustentável

Por Andrea Vialli
Atualização:

Camarão-rosa, cação, surubim. A preocupação com a sobrevivência dessas espécies e com o consumidor atento às questões ambientais já leva empresas a buscarem selos de pesca sustentável. O primeiro selo que chega ao Brasil é o Friend of the Sea, certificação italiana conferida a empresas que obedecem a critérios de pesca e aquicultura com menor impacto ambiental. A entidade já certificou 135 espécies e 120 empresas em 35 países.Outra certificação que está chegando ao País é a MSC - sigla em inglês para Conselho de Manejo Marinho -, selo criado pela ONG WWF em 1997. De acordo com Laurent Viguié, vice-presidente da Trace Register, empresa que desenvolveu um sistema de rastreabilidade para pescado, a MSC abrirá um escritório no País em janeiro de 2011. "Com 8,5 mil km de costa, é um bom negócio para o Brasil investir em certificações, até para garantir a pesca no futuro", diz.Várias das espécies de peixes e de crustáceos consumidas pelos brasileiros estão ameaçadas pela sobrepesca. Segundo o Censo da Vida Marinha do Ministério do Meio Ambiente, das 1.209 espécies de peixes catalogadas na costa e nos rios, 32 estão sendo exploradas além de sua capacidade de regeneração. No caso dos crustáceos, a sobrepesca ameaça 10 de 27 espécies.Uma das empresas que já investiu na certificação Friend of the Sea é a Noronha Pescados, de Recife. A companhia certificou 16 linhas de peixes de rio e de mar, que já estão sendo comercializadas nas principais redes de supermercados do País. O diretor da empresa, Guilherme Blanke, conta que começou a perceber o avanço dos selos de pesca sustentável nas feiras internacionais do setor. "Nos Estados Unidos, me chamou a atenção o esforço que os produtores de salmão faziam para promover o pescado certificado. Fiquei pensando que poderíamos fazer o mesmo com peixes brasileiros."A ideia foi tomando corpo na viagem de volta ao Brasil. A empresa já comercializava peixes da Amazônia, como o pirarucu, e Blanke decidiu que começaria a certificação por ali. A primeira linha de peixes da Amazônia certificada com o selo Friend of the Sea - composta por pirarucu, tucunaré, surubim, aruanã, piramutaba, pescada branca e pescada amarela - está chegando agora às grandes redes de supermercado, como Walmart, Pão e Açúcar e Carrefour. Avanço. Segundo o fundador da Friend of The Sea, Paolo Bray (leia mais abaixo), em 2010 o número de companhias em todo o mundo que se certificaram com o selo da entidade dobrou, em relação ao ano anterior. "Foi um divisor de águas. Passamos a monitorar a pesca e a aquicultura em regiões onde não estávamos presentes, como na Amazônia, Costa Rica, Marrocos e Filipinas", conta. No Brasil, outras empresas certificadas são a Gomes da Costa e Leal Santos - ambas certificaram as espécies de atum usadas para fazer enlatados.Para 2011, a Friend of the Sea prepara uma campanha intensiva de conscientização, voltada ao consumidor final de peixe. Na avaliação de Blanke, da Noronha Pescados, o desafio é fazer com que o consumidor entenda o diferencial da certificação. "O plano é fazer com que o consumidor se sinta engajado em um projeto de preservação da Amazônia", diz o empresário, que para isso está fechando parcerias com ONGs que atuam em projetos de desenvolvimento sustentável na região. "Vamos destinar um porcentual das vendas para programas de incentivo à pesca sustentável na Amazônia, gerando receita para as comunidades ribeirinhas."As redes de varejo já começaram a enxergar os benefícios do pescado sustentável. O Walmart elaborou uma política específica para a compra de pescado, que inclui um acordo de cooperação com o Ministério da Pesca. "O consumo de pescado no Brasil não é alto, mas a pesca desempenha um papel social forte", diz Cristiane Urioste, diretora de sustentabilidade da rede. "Parar de vender peixe por causa da sobrepesca não é solução, e sim o manejo do pescado e o investimento em sistemas de rastreabilidade", diz. Hoje a rede tem controle de 40% dos crustáceos que comercializa.No Pão de Açúcar, a aposta será no desenvolvimento da cadeia de fornecedores da Amazônia. "Queremos construir uma cadeia constante, baseada no trabalho com os ribeirinhos", afirma Paulo Pompilio, diretor de relações institucionais da rede. Um dos desafios será fazer com que os preços não se tornem proibitivos. "Não pode ser um produto ''gourmet". Se o pirarucu custar R$ 35 o quilo, as pessoas vão preferir o bacalhau", analisa.OS PRINCIPAIS SELOS INTERNACIONAISFriend of the SeaSistema de certificação de sustentabilidade que trabalha pela conservação dos hábitats marinhos, segudo diretrizes da FAO (órgão da ONU para alimentos) para rotulagem de produtos da pesca e da aquicultura sustentável.MSCSigla em inglês para Conselho de Manejo Marinho. Trabalha para garantir os estoques pesqueiros globais e a saúde do ecossistema marinho. Segue três princípios básicos: estoques de peixes, minimização do impacto ambiental e manejo.KravCertificação sueca que possui foco em agricultura orgânica e na pesca e aquicultura com reduzido impacto ambiental.

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