Pela 1ª vez em 14 anos, Brasil produz menos carros do que vende

Indústria automobilística brasileira também terá este [br]ano o primeiro déficit comercial em uma década

PUBLICIDADE

Por
Atualização:

Pela primeira vez em 14 anos, a produção da indústria automobilística brasileira será menor que as vendas. Excesso de importações e declínio de exportações também levarão o setor ao seu primeiro déficit na balança comercial nos últimos dez anos. As montadoras devem vender este ano mais de 3,1 milhões de veículos, mas vão produzir cerca de 100 mil unidades a menos.Entre os dez maiores mercados mundiais, só os Estados Unidos, até o momento, produziam menos do que vendiam internamente. O Brasil é o sexto maior produtor de carros. À sua frente estão, respectivamente, Japão, China, EUA, Alemanha e Coreia do Sul. Logo abaixo, França, Espanha, Índia e Canadá, de acordo com dados consolidados de 2008.Favorecido pelo real valorizado ante o dólar e pela demanda em alta, enquanto a maioria dos países enfrenta desaquecimento de vendas o Brasil vai importar este ano mais de 400 mil carros, do chinês Effa M100, de R$ 24,5 mil, ao Lamborghini Gallardo, na faixa de R$ 1,7 milhão. Em outubro, 17% dos veículos vendidos vieram de fora, participação mensal recorde. De janeiro a outubro já foram licenciados 386,4 mil modelos importados, 21,5% a mais em relação ao mesmo período do ano passado. A maior importadora foi a Hyundai/Caoa, com 47,9 mil unidades, e o mais vendido é o utilitário esportivo Tucson, com 22,9 mil unidades.A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) calcula que, até dezembro, mais de 400 mil carros terão entrado no País, a maioria pelas próprias montadoras. O volume equivale à produção argentina neste ano. Em 2008, foram importados 375,2 mil veículos. Já as exportações ficarão abaixo desse volume."Vamos deixar de exportar mais de 330 mil veículos este ano", calcula o presidente da Anfavea, Jackson Schneider, ao comparar as previsões deste ano com os 734,6 mil carros exportados em 2008. Até outubro, a queda é de 42%. Nos dez meses, a balança comercial já apresenta déficit de 15 mil veículos. No ano passado, o saldo foi positivo em 359,4 mil unidades.Em valores, o saldo deste ano também está negativo em US$ 2,5 bilhões, após dez anos de superávit na balança de veículos e autopeças. Além do real valorizado, os principais clientes deixaram de comprar produtos brasileiros. "Não vejo mudança significativa nesse quadro em 2010", diz Letícia Costa, vice-presidente da consultoria Booz & Company.Para o presidente da Anfavea, o fato de o Brasil produzir menos do que o mercado consome pode se transformar, no futuro, em risco a novos investimentos e à geração de empregos. Pelas contas da entidade, a produção da indústria este ano será 5% menor que a de 2008, enquanto as vendas devem crescer cerca de 10%.Apesar dessa constatação, Letícia tem visão menos pessimista. "No contexto global, não dá para reclamar." Ela cita, como exemplo, os EUA, que em 2007 consumiram 16 milhões de veículos, volume que caiu para 13,2 milhões em 2008 e este ano deve ser pouco superior a 10 milhões. Com exceção de Brasil e China, a maioria dos mercados vai cair este ano.O presidente da Fiat, Cledorvino Belini, também vê o déficit da balança comercial automotiva como uma preocupação a mais para o setor. "Já exportamos mais de 800 mil veículos num período em que importávamos 80 mil", lembra ele, referindo-se a 2005, quando foram exportados 897 mil carros brasileiros e importados 87 mil de vários países.Belini ressalta ainda que, diante dos mais de 20 milhões de veículos que estão sobrando no mundo - resultado da capacidade ociosa das montadoras globais -, o Brasil tem se tornado um mercado atrativo para desova de encalhes externos.Neste ano, várias marcas que não viam o País como prioridade desembarcaram carrões e carrinhos de luxo nos portos nacionais. Casos da BMW, com o Mini Cooper, da Mercedes-Benz, com o Smart, da Fiat, com o Cinquecento, e da Lamborghini, entre outras.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.