PUBLICIDADE

Perguntas e respostas: O futuro dos EUA no Iraque

Entenda o que muda na política dos EUA para o Iraque após leitura de relatórios.

Por Bruno Accorsi
Atualização:

Em seus depoimentos no Congresso americano nesta segunda-feira, o comandante das forças americanas no Iraque, general David Petraeus, e o embaixador dos Estados Unidos em Bagdá, Ryan Crocker, fizeram avaliações positivas da estratégia empregada pelo país no Oriente Médio. De acordo com Petraeus, do ponto de vista militar, a escalada de cerca de 30 mil soldados para o Iraque no início deste ano vem propiciando uma redução da violência sectária no país e uma diminuição de ataques cometidos contra civis e as tropas americanas no país. Crocker, que em 2003 se opunha à guerra, agora acredita que ''''um Iraque seguro, estável, democrático e em paz com seus vizinhos é alcançável'''' e que a trajetória de estabilidade política do país é ''''ascendente''''. Veja, a seguir, algumas questões levantadas sobre o relatório do general David Petraeus e do embaixador Ryan Crocker. Sim. O presidente vem pedindo tempo à oposição democrata e à opinião pública americana para que sua estratégia de enviar mais soldados ao Iraque comece a surtir efeitos. As declarações do comandante militar e do diplomata endossam a visão de Bush de que a escalada militar que teve início neste ano está surtindo efeito. Petraeus afirmou que desde que os americanos ampliaram sua presença no Iraque, o número de atentados a bomba e atos de violência contra soldados e civis caíram consideravelmente. Os relatos de Petraeus e Crocker são trunfos de Bush para seguir com a atual política. Mas é improvável que os depoimentos diminuam o desgaste da imagem do presidente junto à opinião pública americana, causado pelo conflito no Oriente Médio. O general Petraeus disse que os americanos poderiam reduzir seu efetivo a partir de meados do ano que vem, mas em relação à escalada militar estabelecida no início deste ano. Ou seja, para o comandante militar, após terem ampliado seu número de soldados e uma vez que conseguirem consolidar as conquistas que supostamente estão fazendo no Iraque, o número de soldados poderá sofrer um declínio. Mas o comandante militar não falou em retirada gradual dos soldados americanos nem em estabelecer um prazo para que as tropas comecem a ser removidas em definitivo do Iraque. É improvável que o efeito dos depoimentos de Petraeus e Crocker vá tão longe. Quando as forças americanas invadiram o Iraque, em 2003, os republicanos cerraram fileiras no apoio ao conflito. Mas, a um ano da eleição presidencial, muitos republicanos não se mostram dispostos a apostar cegamente as suas fichas em uma guerra que parece já não contar com a aprovação da maior parte do eleitorado. Alguns dos republicanos que deram carta branca para a ação militar defendida por Bush, como o senador e presidenciável Johh McCain, parecem ter pago um preço alto. A candidatura de McCain, que foi um árduo defensor da guerra desde o início, parece estar com os dias contados. E muitos republicanos já falam abertamente sobre a necessidade de os Estados Unidos reverem a sua política. Não. Os democratas tentaram de várias formas impor votações que obrigassem o presidente a estabelecer um prazo para a retirada do país. Como eles contam com uma maioria simples no Senado, 51 votos contra 49, não contam com a capacidade de vencer o poder de veto de Bush. Se Bush não pode considerar a guerra como uma vitória política, tampouco podem os democratas, que não tiveram qualquer sucesso em mudar os rumos do conflito no Iraque, desde que assumiram o controle da Câmara e do Senado no início deste ano. Caso eles venham a conquistar a Casa Branca, na eleição presidencial de novembro de 2008, é possível que os democratas ''''herdem'''' a Guerra do Iraque e tenham de seguir administrando as tropas americanas no país, ainda que talvez com um contingente mais reduzido. É a grande incógnita, que analistas e estrategistas militares americanos ainda não foram capazes de responder. Uma guerra, propriamente dita, como a do Iraque, parece estar descartada, ao menos por enquanto. As tensões entre os dois países são crescentes. Nesta segunda, Petraeus voltou a reforçar o argumento americano de que o Irã está dando apoio material e treinamento a insurgentes iraquianos. Os Estados Unidos estão montando uma base militar no Iraque que fica a pouco mais de seis quilômetros do Irã, o que poderia sinalizar para uma possível ação militar no futuro. Esse é mais um ponto no qual Bush e os autores do depoimento desta segunda estão afinados. Muitos políticos, não apenas democratas, mas também republicanos, vinham dizendo que o primeiro-ministro Nouri al Maliki não estava sendo capaz de conter a violência sectária no país e que ele seria refém de milícias como a do clérigo xiita Moqtada al Sadr. Alguns políticos democratas e republicanos chegaram até a sugerir que Maliki deveria renunciar. Mas Bush defendeu o premiê, afirmando que ele é ''''um bom sujeito com um trabalho muito difícil'''' e comentando também que qualquer mudança no governo do Iraque será decidida em Bagdá, não em Washington. Nesta segunda, Crocker disse que a trajetória do Iraque é ''''ascendente'''' em termos de desenvolvimentos políticos, econômicos e diplomáticos, mas que ela não deve se dar rapidamente. Os discursos mais recentes de Bush adotaram um tom semelhante. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.