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Perícia vê falha em trava como causa do acidente

Peritos criminais avaliam que desabamento de vigas sobre a Régis Bittencourt foi causado por falta ou defeito do escoramento provisório

Por e Eduardo Reina
Atualização:

Peritos criminais envolvidos na investigação sobre as causas do acidente nas obras do Trecho Sul do Rodoanel estão convictos de que o desabamento ocorrido há uma semana foi provocado por falha ou ausência do travamento provisório das vigas. O Instituto de Criminalística (IC) já requisitou à Desenvolvimento Rodoviário S.A. (Dersa) e ao consórcio responsável pelo trecho documentos técnicos e plantas para entender detalhes sobre a execução do projeto. A avaliação preliminar dos peritos é de que o tombamento de uma das vigas criou um "efeito dominó", fazendo com as outras duas também desabassem sobre a Rodovia Régis Bittencourt (BR-116).A principal hipótese para o primeiro tombamento, dizem peritos, seria a combinação entre trepidação e deslocamento de ar provocada, por exemplo, pela passagem de um caminhão. Embora cada viga pese 85 toneladas, a ausência ou falha no escoramento faria com que a peça ficasse em situação instável. Nesses casos, a queda ou não depende da perturbação a que ela será submetida.Sabe-se que as vigas sobre a Régis estavam em estágio intermediário de instalação. Das cinco previstas para o trecho, quatro haviam sido colocadas - a última acabou danificada no transporte, entre o canteiro e a rodovia, e não pôde ser utilizada. Peritos do IC explicaram que, mesmo sem a quinta viga, as demais deveriam ter recebido travamento provisório, que pode ser feito com mãos francesas (estrutura triangular em metal) ou pedaços de madeira.Indícios colhidos no local do desabamento reforçam a hipótese de problemas no escoramento. Na visão de peritos, as três fissuras verificadas no bloco de apoio das vigas indicam que as três tombaram para o mesmo lado, correspondente ao sentido da via. Além disso, o IC não encontrou entre os escombros peças ou pedaço de madeira que sugiram a existência de um travamento provisório entre as vigas. Por ora, esse fato é relativizado pela perícia criminal, uma vez que esses vestígios podem ter sido removidos durante os trabalhos de limpeza e desinterdição da rodovia. Só depois de analisar a documentação técnica da obra e cotejá-la com os depoimentos de engenheiros e operários é que será possível descobrir se o escoramento das vigas não funcionou ou se ele nunca existiu.Para o diretor de Engenharia da Dersa, Paulo Vieira de Souza, o mais provável é que uma das vigas tenha quebrado e, ao cair, tenha empurrado as demais. "Há várias possibilidades para explicar esse problema com a viga, desde impacto durante o transporte até uma torção no içamento. Isso quem vai dizer são os técnicos do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas)." O órgão ligado ao governo do Estado foi contratado por R$ 567 mil para elaborar um laudo. "Na minha opinião, não existe qualquer possibilidade de erro de projeto nessa obra."Anteontem, o plenário do Tribunal de Contas da União (TCU) decidiu que não houve irregularidades nos pagamentos feitos pela Dersa às empreiteiras que constroem o Trecho Sul que levem a cessar os repasses de verbas federais. O órgão determinou que seja feito monitoramento do Termo de Ajustamento de Conduta firmado entre a Dersa, consórcios e o Ministério Público Federal.

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