Petrobrás será minoritária em nova empresa

Diretor da estatal garante que 'não haverá estatização' do setor com a fusão entre Braskem e Quattor

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Por Nicola Pamplona e Débora Thomé
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A Petrobrás será minoritária na nova empresa petroquímica brasileira que deve sair da fusão entre Braskem e Quattor. A afirmação é do diretor de abastecimento da estatal, Paulo Roberto Costa, que garantiu ao Estado que "não haverá estatização" do setor. O executivo não quis dar detalhes sobre as negociações, mas defendeu a operação dentro da nova estratégia da companhia para o segmento, que prevê a criação de "uma petroquímica forte, de escala mundial".A estratégia foi anunciada ainda em 2003, logo no começo do governo Luiz Inácio Lula da Silva. Em 2004, no primeiro plano estratégico da empresa sob nova gestão, o retorno da Petrobrás à petroquímica foi a principal mudança. Na época, a estatal divulgou que retomaria investimentos em expansão da capacidade ao mesmo tempo em que atuaria como consolidadora das empresas do setor, processo que culminou com criação da Quattor e com a compra da Ipiranga por Petrobrás, Braskem e Ultra."Petroquímica é mercado mundial. Pode ser que (a fusão entre Quattor e Braskem) seja o caminho", afirmou Costa, em entrevista ao Estado, lembrando que outros setores, como o de alimentos, vêm passando por processo de consolidação semelhante. As partes envolvidas já estão em negociações, mas vêm enfrentando alguns percalços, principalmente com relação a conflitos societários na Quattor. Essa semana, um obstáculo foi removido: autora de uma ação judicial contra o negócio, Joanita Soares de Sampaio Geyer vendeu suas ações na Unipar e desistiu de contestar a fusão.Costa não quis adiantar detalhes das negociações, mas disse que a tendência é que a Petrobrás mantenha a postura inicial, de atuar como minoritária no setor. "Nada vai ser estatal. A empresa (resultante da fusão) vai ser empresa privada", ressaltou o diretor da Petrobrás. A empresa busca, inclusive, um sócio para a Petroquímica Suape, que inicia as operações já no ano que vem. O grupo Vicunha, parceiro inicial, desistiu do projeto. A tendência agora é a entrada de um grupo internacional.Diante do início das negociações sobre a fusão Quattor/Braskem, a avaliação no setor é que o retorno da Petrobrás à petroquímica não obteve o resultado esperado. Observadores próximos dizem que a ideia de criar dois grandes grupos fracassou diante do elevado endividamento da Quattor. Costa discorda: "Não encaro nada como passo errado, foi o passo que tinha que ser dado naquele momento. Agora, há um novo processo de negociação, que não se sabe onde vai dar".O executivo reitera que houve avanços importantes em ampliação da capacidade. Além da Petroquímica Suape, diz, foram construídas três novas unidades de propeno no País, garantindo insumo para o crescimento da produção de matérias-primas petroquímicas no País. Além disso, Petrobrás e Braskem construíram a Petroquímica Paulínia SA, já em operação. A Quattor, por sua vez, inaugura nova unidade de polietileno no polo de Capuava, com capacidade de 200 mil toneladas por ano, em janeiro.Projeto símbolo da retomada, o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), porém, tem patinado na busca de parceiros. O primeiro interessado, o grupo Ultra, já não parece disposto a assumir o grande custo da obra. A Quattor, que tinha compromisso de participar, deve ser incorporada à Braskem. A Petrobrás já iniciou a terraplenagem e a encomenda de equipamentos, mas ainda não anunciou qualquer parceria no polo."Não estou com pressa de fechar (parcerias para) a segunda geração. Estou me dedicando agora à refinaria", diz o executivo. A percepção no mercado é que não há grande interesse pela obra no momento, já que o consumo foi afetado pela crise e há grandes projetos na Ásia prestes a entrar em operação, os maiores deles, em países do Oriente Médio: Arábia Saudita, Qatar, Kuwait e Emirados Árabes. No encontro anual da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), este mês, o plano de negócios apresentado pelo presidente da Petrobrás, José Sergio Gabrielli, reconhecia que "a crise econômica mundial reforçou o ciclo de baixa da petroquímica, fazendo com que projetos fossem postergados". A expectativa da Maxiquim, consultoria especializada na indústria química, é que a demanda interna por resinas termoplásticas caia cerca de 3% em 2009. Já nos próximos anos, considerando polietilenos, polipropileno, poliestireno, PVC e PET, a procura deve crescer na faixa de 6% anualmente. "As exportações devem cair, devido ao menor volume de excedente, já que a capacidade não subirá, e o mercado doméstico crescerá, ocorrerá também uma maior competição no mercado internacional", diz a consultora Solange Stumpf.Costa vê de outro modo. "Há avaliações de que até 2020, a Bacia do Atlântico (EUA e Europa) vai fechar refinarias com capacidade somada de 8 milhões de barris por dia. E algumas atreladas a complexo petroquímico", comenta. "Vai haver um deslocamento da produção para países emergentes, como já ocorreu com outros setores", completa, citando a siderurgia como exemplo.A estatal, portanto, mantém os planos para o Comperj, que deve iniciar operações em 2013, apenas com refino de petróleo para produção de combustíveis. A ideia é que, em 2014, entre a unidade produtora de matérias-primas petroquímicas básicas. Questionado sobre uma possível participação da Braskem no projeto, caso a fusão saia do papel, o diretor da Petrobrás disse apenas que "vai ter um novo arranjo". "Como vai ser eu não sei, mas é claro que vai ter um novo arranjo."

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