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'Petrolíferas estão por trás de pressão contra etanol', diz Lula

Em Lima, presidente afirma que debate sobre biocombustíveis será 'longo e duradouro'

Por Claudia Jardim
Atualização:

Com um discurso em defesa do etanol, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que as indústrias petrolíferas estão por trás da crise que coloca os biocombustíveis como vilões da recente crise de inflação dos alimentos. "Há uma disputa comercial no mundo. Obviamente as petroleiras estão por trás disso, obviamente que os países não querem mudar suas matrizes (tecnológicas)", afirmou Lula na noite da última quinta-feira em sua chegada a Lima, onde participará da 5ª Cúpula de Chefes de Estado da América Latina, Caribe e União Européia.   Veja também: Entenda a crise dos alimentos  Alta dos alimentos é 'ameaça humanitária', alerta ONU Lula disse que o debate em torno dos biocombustíveis "está só começando". "Nós precisamos estar preparados porque vem um debate longo e duradouro", ponderou. O presidente brasileiro chega a Lima para protagonizar um dos pontos que prometem ser o alvo de polêmicas durante o encontro dos chefes de Estado. De um lado, encontrará líderes latino-americanos preocupados com a produção de etanol à base de alimentos, leia-se Evo Morales (Bolívia), Alan Garcia (Peru) e os mandatários centro-americanos, e os europeus, que não estão convencidos que a revolução energética defendida por Lula seja o caminho para a produção da chamada "energia limpa". 'Contradição' Para Lula a polêmica é "compreensível" e "contraditória". "Como o tema é novo eu compreendo que as pessoas recusem. É muito difícil as pessoas aceitarem mudanças", disse. "Mas acho muito engraçado porque as pessoas querem despoluir o planeta, desaquecer o planeta, assinar o protocolo de Kyoto e quando o Brasil oferece um combustível que não emite CO2 eles preferem utilizar um combustível que emite CO2, então há uma contradição", afirmou. Lula criticou os ataques aos biocombustíveis como responsáveis pelo aumento dos preços agrícolas e responsabilizou o aumento dos preços do petróleo pela crise. "As pessoas não querem discutir quanto tempo a Europa pagou para seus produtores não produzirem, as pessoas não querem discutir quanto implica um barril de petróleo a US$ 124 no preço do frete e dos fertilizantes", afirmou. Para o presidente brasileiro, outro fator que implica a suposta escassez de alimentos é que "os pobres estão comendo mais". "O povo pobre está comendo mais e eu quero que eles continuem comendo mais o que vai exigir que nós produzamos mais comida para eles comerem mais", disse Lula. De acordo com a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) o problema em torno da crise alimentar não está relacionado à escassez de comida e sim à falta de poder aquisitivo para comprar os alimentos. Debate Lula disse que proporá a seus colegas mandatários um amplo debate, "sem ideologia e emoção, mas com muita razão". Questionado sobre as possíveis tensões que poderão haver entre os mandatários que participam da Cúpula, em alusão ao atrito entre Hugo Chávez e a chanceler alemã Angela Merkel e com o mandatário colombiano Álvaro Uribe, Lula saiu em defesa da democracia. "É verdade que pode ter uma ou outra tensão, mas temos democracia na região como nunca tivemos em outro momento histórico. Hoje com exceção das Farc, não tem grupo armado, não tem guerrilha, não tem terrorismo e temos países construindo democracia, isso é o que interessa." 'Melhor que Evo' Ao saber que o presidente da Bolívia Evo Morales havia participado de um jogo de futebol realizado em Lima com jogadores da década de 70, Lula brincou e disse que não participou da partida por acreditar que está em melhor forma física que seu colega boliviano. "Não quero jogar com o Evo porque tenho a impressão que estou com melhor preparo físico que ele, não posso", brincou. Morales chegou à capital peruana na tarde desta quinta-feira e sua primeira atividade "oficial" foi uma partida de futebol com jogadores peruanos da seleção de 70. A partida foi organizada pela Cúpula dos Povos, encontro paralelo realizado por movimentos sociais que são contra as políticas de abertura econômica aplicadas pelos governos da América Latina e União Européia. Com estádio lotado, Evo Morales jogou 30 minutos, marcou um gol de pênalti e voltou a criticar o veto da FIFA a jogos em locais de altitude maior. "Isso é um apartheid, uma atitude que discrimina a Bolívia", afirmou. A organização vetou a realização de partidas internacionais de futebol em estádios com altitude superior a 2.750 metros. A altitude média na Bolívia é de 3.600 a 3.800 metros e sob essas regras o país fica fora de disputas internacionais como o campeonato Libertadores da América. Sobre o acordo de livre comércio que a Comunidade Andina de Nações (CAN) pretende estabelecer com a União Européia, Morales foi crítico e sugeriu como condição a livre circulação de pessoas entre os continentes. "No meu país não tem sido uma solução política o livre comércio. Nos falam de livre comércio para produtos e serviços, mas não há livre circulação do ser humano. Porque não para o ser humano e simplesmente para o negócio", questionou Morales em conferência de imprensa na noite desta quinta-feira.

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