Pirataria e crise econômica ameaçam indústria pornô na Califórnia

Produtores culpam economia, acesso a filmes gratuitamente na internet, mercado pirata e pressão para que atores usem camisinha.

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Por Ed Butler
Atualização:

A pirataria na internet, a crise econômica e a legislação cada vez mais rigorosa sobre saúde no trabalho estão ameaçando a indústria de filmes pornográficos da Califórnia, dizem profissionais do setor. Como acontece na indústria musical, está cada vez mais difícil persuadir o público a pagar pelos produtos que consome - nesse caso, filmes. As vendas de DVD despencaram. Na internet, uma grande quantidade de filmes pornográficos pode ser baixada gratuitamente. E a crise econômica não ajuda. "Com a recessão e a pirataria, chamamos (essa situação) de uma tempestade perfeita", disse à BBC um importante produtor do circuito. Preservativos A crise econômica torna ainda mais difícil para a indústria adotar a legislação cada vez mais rigorosa do Estado americano sobre saúde no trabalho. Há anos, as autoridades da Califórnia vêm exigindo que os atores usem camisinha. Acidentes sérios - como o caso de três atores que, em 2004, foram contaminados com o vírus HIV - chamam a atenção para os altos índices de infecção nos sets de filmagem. Mas a indústria diz que usar camisinha na tela não funciona. O público não quer, isso destrói a fantasia, dizem os produtores. No Set de Filmagem Em um estúdio no norte de Los Angeles, estão em andamento as filmagens de Star Trek, The Next Generation - paródia bem humorada da famosa série de televisão. Atores em figurinos colantes andam pelo set de filmagem aparentando um certo tédio enquanto a equipe técnica ajusta as luzes. A manhã foi dedicada à gravação dos diálogos. Sam, produtor, diretor e roteirista do filme, explica, desanimado, que não há muitos diálogos na produção: apenas 30 minutos do longa metragem de duas horas envolvem algum tipo de trama. Uma das atrizes principais dessa produção é Bobbi Starr. Aos 27 anos, a ex-nadadora tem diploma universitário e toca oboé profissionalmente. Ela conta que entrou na indústria de filmes pornográficos levada por um certo espírito aventureiro. "É divertido", disse Starr. "E se todos em torno de você estão se divertindo também, como posso não gostar?" Hoje, a agenda de Starr está cheia: ela vai gravar duas frases, depois fará quatro horas de filmagens para uma cena de sexo. Mais tarde, vai experimentar um figurino e passar no posto de saúde para fazer seu check-up mensal de saúde. Suas jornadas de trabalho duram, em média, 15 horas, mas ela diz que está acostumada. Ela admite que corre riscos de saúde. "Tive clamídia duas vezes e gonorreia - nada demais", ela diz. "Fazemos testes todos os meses, então, quando você é diagnosticado, simplesmente toma o remédio e fica pronto para a próxima. Sem problemas". Batalhas Legais Os californianos são conhecidos por seu entusiasmo, rebeldia e espírito libertário. Na década de 1980, uma batalha na Suprema Corte do Estado legalizou filmes pornográficos na Califórnia, diferenciando a produção dos filmes de atividades como a prostituição. Hoje, falando à BBC, vários profissionais do setor defendem o direito de não usar camisinha como um aspecto fundamental do direito - garantido na Constituição americana - à liberdade de expressão. "Como posso me expressar como artista", diz um produtor, "se você vai cobrir meus atores com borracha?" As autoridades, no entanto, estão determinadas. Trabalhadores da indústria de construção usam capacetes, mineiros usam máscaras e estes atores precisam usar proteção adequada. Há grande probabilidade de que a indústria de filmes pornográficos perca sua batalha contra as autoridades californianas. Inclusive porque, além das multas do Estado, a indústria pode receber uma avalanche de processos legais movidos por ex-atores. Em depoimentos confidenciais, vários atores disseram à BBC que está mais do que na hora de legislação desse tipo ser adotada no setor. Os produtores dizem que as leis não ajudarão os trabalhadores. Apenas levarão as produções para fora do país, ou para o mercado negro. O público sempre consegue o que quer, argumentam. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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